Fernanda631 05/07/2023
O Pistoleiro (A Torre Negra #I)
O Pistoleiro (A Torre Negra #I) foi escrito por Stephen King.
O Pistoleiro segue o Homem de Preto em um mundo desolado. Sua obsessão por ele vai fazer com que tome decisões ruins ao longo de sua jornada. Mas, quem é O Pistoleiro? E o Homem de Preto? Aqui começa a jornada por uma das histórias mais sensacionais escritas pelo Mestre do Terror.
O Pistoleiro é um prólogo à ação que certamente virá nos próximos volumes. Apresenta satisfatoriamente o protagonista, Roland, e suas motivações. Muitas coisas ainda permanecem nebulosas, mas como se trata de um prólogo, a história cumpre aquilo que se propõe a fazer. Aliás, em vários volumes da Torre Negra, King prefere esconder um pouco o seu jogo, revelando os segredos progressivamente. Nesse primeiro volume, a gente não sente tanto essa característica.
Somos jogados ao deserto junto com o Pistoleiro em sua caça implacável pelo Homem de Preto e no decorrer do livro ficamos sedentos por conhecer mais sobre Rolland, sua história e os acontecimentos mais marcantes de sua vida.
Logo no início da obra, ele encontra o colono Brown e seu corvo falante (e bastante assustador) Zoltan. Em busca de uma refeição quente e uma cama confortável para descansar seu corpo, Rolland conta sobre sua breve, porém inesquecível estadia na cidade de Tull, última vez que teve contato com o poder do feiticeiro Homem de Preto, figura que pode ter respostas que importam ao Pistoleiro, como nenhuma outra pode importar.
Poucos dias depois, voltando à sua caçada, ferido e quebrado, sua vida é salva por uma figura inesperada: um adolescente chamado Jake Chambers, um humano da Terra. Ao perceber a sua ligação com o garoto, Rolland começa a se questionar sobre seu poder de decisão, enquanto revive memórias esquecidas. Essa aliança é fascinante e motivo de nos mostrar um dos maiores poderes de Rolland, se não o maior, o de decisão e determinação para se alcançar o que ele quer.
A obra apresenta o mundo vivido por Roland. E aqui é preciso elogiar a genialidade de King por construir um mundo de fantasia sem se distanciar de sua característica de autor de obras de horror. O feeling de O Pistoleiro é tétrico, mais até do que algumas obras do próprio autor.
A primeira cidade de Tull lembrou um pouco o estilo claustrofóbico característico da escrita do autor ao conter toda a ação em um espaço controlável. A quantidade de personagens aparentemente comuns distorce a nossa visão sobre o que realmente está se passando. Gostei muito da maneira como King se coloca em uma posição desconfortável ao apresentar um universo literário maior do que aquilo que está acostumado a lidar.
Uma tragédia durante a história era completamente esperada. O Pistoleiro foi construído como uma história que demonstra a solidão vivida por Roland. E o Roland ainda é um homem com uma obsessão que toma a sua vida por completo. E King demonstra um pouco suas intenções ao revelar uma profecia no começo da história. É como se ele estivesse dizendo aos seus leitores “eu vou fazer isso... vocês duvidam?”. São essas apostas feitas por King durante o romance que tornam a história tão marcante. Mas, em muitos momentos, ele decide enganar o leitor dando a impressão de que a profecia não iria se concretizar. Com isso, Roland é apresentado como um herói cuja personalidade é falha. Não se trata aqui de um anti-heroi como veremos posteriormente. Roland possui seu próprio código. Mas, Roland é um personagem que passou por muita coisa ao longo de sua vida e sua visão de mundo não é preta e branca. O personagem possui uma série de características heróicas ao lado de uma personalidade difícil. Ele enxerga qualquer companhia como um fardo, mas percebemos que ele tem um coração que busca ser preenchido por alguém. Mas, na hora de escolher entre salvar uma vida e conseguir pegar o homem de preto, Roland vai sempre optar pela segunda opção. É como se ele fizesse uma escolha ruim por instinto dado a sua sede de vingança por seu nêmesis. Não dá para avaliar o protagonista sob um espelho de perfeccionismo.
Os flashbacks servem como um conto de origem de Roland. Nesse ponto o autor acertou na mosca ao tornar estes trechos da história interessantes ao invés de ser uma origem cansativa. Estes flashbacks mostram as motivações por trás das atitudes de Roland. Não atrapalham em nenhum momento a fluidez da história e são colocadas em momentos pertinentes. Serve para comprovar os méritos da escrita de King e é preciso ressaltar que O Pistoleiro é uma obra da década de 1980, ou seja, ele publicou mais de uma dúzia de romances depois disso. Não foi um acerto por acaso.
O tom de iminência é perfeitamente apresentado durante a interação entre Roland e o homem de preto. O leitor consegue se investir na história, perceber como as ações de Roland fazem parte de algo maior. De nenhuma maneira a fala do homem de preto coloca um limite naquilo que King pode fazer em futuras histórias. Ele não se prende a um plot simples, deixando ganchos para histórias por todo o lado.
O livro está cheio de flashbacks. Nesse ponto King acertou muito em nos apresentar flashbacks, estes trechos da história são tão interessantes, quanto a própria história em si. Além de conhecermos melhor as motivações de Roland, eles dão um descanso da história narrada.
O primeiro livro é uma história sem começo e sem fim exatos, apenas retratando um momento na vida de um personagem, como um prólogo. 'O Pistoleiro' é uma boa história, porém o livro pode te frustrar um pouco se você está à procura de terror, pois o livro é mais fantasia. O livro é o primeiro de sete, por isso, ele deixa muita coisa no ar e dá uma breve introdução do que está por vir sem muita explicação, então não exige muito.