spoiler visualizarhylle 29/09/2022
Mais um do Orwell pra lista dos favoritos
Acho incrível como todos os livros desse homem me dão uma vontadezinha de cursar uma psicologia da vida. Fala sério, esse livro é um prato cheio pra qualquer pessoa que se interesse um pouquinho que seja por comportamento, personalidade, psicólogo, essas coisas.
Gordon Comstock é, sem dúvidas, um dos personagens mais reais da história da literatura (pelo menos da ínfima que eu conheço), e eu costumo sempre ver e entender outras opiniões a respeito dos livros que leio, mas entender como as pessoas dizem não se identificar com o Gordon ou sequer entender o comportamento dele tá bem acima do meu nível de compreensão. Em alguns momentos do livro, eu senti como se o Gordon fosse mais parecido comigo do que eu mesma, e foi bem agoniante. É, acho que "agonia" descreve bem o que senti com esse livro. Ver o Gordon se afundando mais a cada página, até naquelas em que ele achava que as coisas iriam melhorar (e meu Deus, essas eram as piores), ver ele afastando todo mundo que amava ele, afastando toda chance que ele tinha de mudar (e não digo "melhorar" porque não tem como saber se realmente iria, mas ele tinha que ter tentado) foi, talvez, uma das piores sensações que eu já senti, e não por ser uma sensação nova. Foi ruim porque, mesmo se a escrita do Orwell não fosse tão cirúrgica, tão cheia de sentimento, verdade e técnica eu ainda assim saberia exatamente como Gordon (ou qualquer pessoa em quem ele tenha sido baseado) estava se sentindo.
Eu queria ter visto um pouco mais da infância do nosso menino de ouro (que de ouro não tinha nada). Afinal, foi lá que tudo começou. Mas eu até que consigo entender. Saber o passado dele só traria mais sofrimento, e disso a história já tá cheia. E também não adianta muito saber o passado se o presente vai continuar sendo um pesadelo.
O principal passa 306 páginas (pelo menos nessa minha edição) tentando, a todo custo, não se submeter ao deus dinheiro. O principal também passa 306 páginas (lê-se: sua vida toda) se submetendo completamente ao deus dinheiro. E eu disse que não conseguia entender quem não se identifica com o Gordon, mas acho que consigo sim. Realmente, nem todo mundo tenta fugir do dinheiro a todo custo e sempre se acaba preso a ele como o personagem dessa história, mas eu acho muito difícil que todos não tenhamos pelo menos uma coisinha com a qual lutamos diariamente, mas sem muito resultado. Então, com todo o respeito, acho que antes de julgar o Gordon, deveríamos sair um pouco do literal e analisar a situação toda (vejam bem, não estou defendendo ele, porque realmente, ele teve várias e várias chances de mudar, mas nem todos os livros tem o personagem principal cheio de força de vontade e perfeito). Por mais que George Orwell seja considerado um visionário (e tenha, mais uma vez, acertado em cheio com o Gordon Comstock), espero que todos nós cheguemos a um final feliz, por mais clichê que seja.