Wlianna 25/06/2016
Ler é cobrir a cara. E escrever é mostrá-la.
As memórias são definitivamente o forte das narrativas do Zambra. É perturbador o modo como algumas dessas memórias se repetem nos diferentes romances e até nos contos do autor, mas é incrível também os modos como essas memórias aparecem em "Formas de Voltar para Casa". São as memórias que sustentam o romance e que constroem as personagens, contudo, são as mesmas que são tratadas com certo desprezo em alguns momentos.
Alejandro Zambra nos apresenta mais um romance curto e incomum, pois não estabelece os cotidianos início, meio e fim. Tem voltas, entradas e saídas, angústias da trama que chegam ao leitor não apenas através da estória contada, mas também através da escrita. As estórias dessa obra giram em torno de personagens secundários e o que eles desconhecem. Elas estão ambientadas em diferentes épocas políticas do Chile que refletem, obviamente, no cotidiano das personagens e evidencia seus problemas, suas normalidades, suas banalidades. É disso que trata o autor: de vidas normais, com pontos que se ligam e pontos totalmente opostos.
Na página 63, após observar uma mulher lendo no parque o personagem principal diz: "Ler é cobrir a cara, pensei. Ler é cobrir a cara. E escrever é mostrá-la." Esse trecho traduz a escrita de Zambra e traduz também quem o lê. Enquanto Zambra se mostra para nós, leitores, nós nos escondemos na escrita dele.
(Ps.:Acho que entre os romances dele é desse que mais gosto, mas ainda fica em primeiro lugar o livro de contos "Meus Documentos". Recomendo-os.)