spoiler visualizarDani Ferraz 12/08/2019
Livro de memórias, de elementos biográficos, históricos, de protagonismos, de reencontros, redefinições e de formas de voltar para casa
Olá pessoal, vou fazer a resenha do Livro “Formas de voltar para casa” do autor chileno Alejandro Zambra. Este é o terceiro livro traduzido do autor, vindo depois de Bonsai e A vida privada das árvores dos quais já havia mencionado anteriormente. O autor me encantou pela simplicidade da escrita e por mostrar que uma obra não precisa necessariamente ter diálogos, capítulos e trechos rebuscados, difíceis e complexos para que sua essência seja formidável. O livro aborda desde um terremoto que aconteceu no Chile em 1985, até o golpe que levou Pinochet ao poder e também o pós-Pinochet ou pós ditadura época onde os ideais e as palavras foram silenciadas, período em que fases da vida corriam em paralelo entre àqueles que faziam parte do processo como militantes e os que estavam às margens, exemplo que pode ser encontrado na citação “era o único que provinha de uma família sem mortos, e essa constatação me encheu de uma estranha amargura: meus amigos tinham crescido lendo os livros que seus pais ou seus irmãos mortos tinham deixado em casa. Mas na minha família não havia mortos nem havia livros”. Esta frase foi citada pelo narrador/protagonista que também é escritor de livros dentro da história. No começo ele conhece uma menina chamada Cláudia e esta pede para que ele vigie seu tio que mora na mesma rua que ele e se chama Raul. E é nesse desenrolar que tudo vai acontecendo e as “formas de voltar para casa” vão aparecendo. Quando criança ele brigou pela sua liberdade que foi cedida pelos pais e ele viu que não era tão boa assim, então queria voltar para casa - casa aqui representada pelo instituição lar e tudo que o envolve. Mostra-se também o quão difícil é voltar para casa depois de termos construído nossa vida e nossa independência quando já somos adultos e principalmente quando nos deparamos com ideais dos nossos pais tão diferentes daquilo que acreditamos. Em um diálogo entre o narrador e o pai, a gente encontra um diálogo escrito em 2011 (texto em espanhol) e que ecoa ainda no ano de 2019, no nosso ano e contexto político em que estamos vivendo “Pinochet foi um ditador e tudo o mais, matou algumas pessoas, mas pelo menos naquele tempo havia ordem”.
É um livro de memórias, de elementos biográficos, históricos, de protagonismos, de reencontros, redefinições e de formas de voltar para casa pois “Os pais abandonam os filhos. Os filhos abandonam os pais. Os pais protegem ou desprotegem, mas sempre desprotegem. Os filhos ficam ou partem, mas sempre partem”. Frase que me marcou muito durante a leitura. O livro é dividido em 4 capítulos de títulos no mínimo curiosos (I – Personagens secundários; II – A literatura dos pais; III – A literatura dos filhos; IV – Estamos bem) que vou deixar pra vocês lerem, descobrirem e perceberem assim como eu o crescimento do personagem/narrador que deixou de ser criança, vigiando histórias dos outros e passou a ser protagonista da sua própria vida e história.