Paulo Silas 23/09/2019Como o título sugere, o livro é uma exposição de diversos pontos que constitui uma defesa pelo armamento civil - ou a defesa pelo direito de o cidadão possui armas. Escrito de maneira bastante clara, a proposta expositiva é a de refutar aqueles que seriam os principais argumentos contrários à liberação das armas para a população em geral, tratando-se de um espécie de antítese do desarmamento, o que é feito mediante tópicos, divididos pelos capítulos, onde em cada qual consta uma ideia contrária ao armamento civil que é apontado como mentira fosse, seguido das razões pelas quais o argumento é refutado. Enfim, é uma obra claramente pró-armas que objetiva sinteticamente lançar dados e argumentos que justificariam a defesa proposta.
Dentre os dez capítulos que compõem o livro, alguns dos argumentos propostos realmente auxiliam no fomentar do debate, enquanto outros acabam caindo no senso comum ou ainda no mesmo erro que é apontado como presente nas ideias contrárias à dos autores. A estrutura dos capítulos é feita de modo a apontar um argumento "anti-armas" como mentira fosse. Assim, o primeiro capítulo, por exemplo, é nomeado "mentira: o governo quer desarmar as pessoas porque se preocupa com elas", no qual os autores apontam que são os governos totalitários que possuem políticas de restrição armamentista. É nessa toada que seguem os outros capítulos, trazendo ainda aqui como exemplo o sexto ("mentira:armas causam muitos acidentes caseiros e matam crianças") - em que os autores argumentam que acidentes domésticos com armas seriam raríssimos e em quantidade menor que com outras coisas comuns existentes em residências, o quinto ("mentira: as armas são produzidas apenas para matar") - em que os autores defendem que armas serviriam para se defender, e o oitavo ("mentira:o desarmamento tem diminuído a criminalidade no Brasil") - em que os autores apresentam números para refutar a ideia da diminuição da violência posterior ao estatuto do desarmamento.
O livro é curto, não permitindo que o debate se aprofunde muito. Como dito, em que pese se prometa, de certo modo, ao leitor dados que contestariam qualquer argumento em sentido contrário, a obra acaba caindo em alguns jargões de defesa exacerbada do armamento civil. Quando mencionado que também cai no mesmo erro que aponta como presente em argumentos contrários, diz-se aqui da fonte de dados (matérias em jornais, por exemplo, ou a dificuldade de se ter um número outro diante da cifra negra da criminalidade) que é utilizado num capítulo cuja fonte são recortes de noticiários. A comparação de uma arma a um automóvel, feita para argumentar que uma arma não seria feita para matar, reconhecida pelos próprios autores como um pouco exagerada, é mais do que exagerada, na verdade. O emprego constante do termo "cidadão de bem" é outro fator presente no livro que preocupa - problemática essa que se evidencia com os primeiro apêndice do livro: ofensas gratuitas e descoladas do próprio propósito do livro contra os direitos humanos - que para os autores se traduziria no Brasil como políticas de vitimização de criminosos. Nada mais equivocado, cuja sandice é observável no apelo aos termos empregados e jargões do senso comum (quando se afirma, por exemplo, em tom de escárnio, que movimentos sociais servem para constituir a base da militância da esquerda no Brasil). Enfim, o livro não é de todo ruim. Como dito, há alguns pontos que contribuem para o debate - quando são apresentados dados (mapa da violência, número de mortes produzidos por arma de fogo, entre outros) que merecem e devem ser levados em conta, por exemplo, não podendo ser simplesmente ignorados. Mas ao mesmo tempo a obra acaba pecando no sentido de cair no mesmo erro que se julga denunciar: apelo efusivo à uma política armamentista tendo como ímpeto o afã por armas. Realmente, o livro não parece constituir um "fetichismo por armas", como é exposto no próprio, mas também falta muito para que constitua uma fonte fidedigna para sustentar uma política armamentista. Acaba sendo uma obra mediana que mais agrada os entusiastas por armas e irrita os contrários à política armamentista - mas por mera concordância ou discordância já previamente estabelecida à leitura.