Karina 19/08/2021
Resenha | O Muro • Fraipont & Bailly
Nesta graphic novel ambientada na Bélgica de 1988, a protagonista Rosie, é uma garota de 13 anos, que é abandonada a própria sorte, após sua mãe fugir com um homem para Dubai, e seu pai se ausentar dedicando toda sua atenção ao trabalho. Desorientada, sem a base de alguém para guiá-la, a jovem introvertida, se sente sozinha, angustiada, perdida em vários momentos, questionando sobre o que de fato é certo ou errado.
A protagonista está em um momento de transição, da adolescência para a vida adulta, tendo vários conflitos internos, dúvidas, que ela guarda para si, fechando-se cada segundo mais, não compartilhando seus pensamentos com as outras pessoas.
O sentimento de dor e solidão está presente em toda a narrativa, e mesmo que ela tenha outras pessoas a sua volta, ela não se sente acolhida, ampliando o sofrimento da personagem ao longo das páginas. Em muitos quadrinhos Rosie está sozinha, em cenas que se repetem, sugerindo o sentimento de abandono, monotonia e falta de amor.
Em uma tentativa de tentar amenizar toda essa dor e agustia, ela para de ir a escola, começa a fumar, beber bebidas alcoólicas, o que afasta sua única amiga Nath. Mas, Rosie mantém seus hábitos, indo com frequência até ao muro onde passava as tardes com amiga, e assim, ela conhece Jô.
Jô se torna alguém importante para Rosie, fazendo-a feliz em muitos momentos, em cenas com várias referências musicais e rock and roll, mas ele também a apresenta ao mundo do roubo, das drogas, e Rosie se deixa envolver por sua realidade, pois acredita que assim como ela, ele também busca nessas coisas, um refúgio para sua solidão.
O Muro, traz uma história profunda, fazendo o leitor ter empatia pela protagonista desde o início, apresentando fatos que mostram como a falta de estrutura familiar, decepções e traumas podem levar alguém a depressão, e como precisamos ter o cuidado de olhar para o outro sem preconceitos, sem julgamos quando alguém precisa de ajuda.
Tanto a Rosie, quando o Jô são dois personagens introvertidos que “constroem muros” em volta de si, por não se sentirem compreendidos, fazendo o possível para se ajustar e se encontrar dentro das suas realidades, e até mesmo usando esse sentimento como uma espécie de proteção para não sofrerem ainda mais. Então, quando eles se encontram, um se torna a base do outro para não desmoronar.
A conclusão do quadrinho mostra justamente isso, que Rosie é uma jovem que está em processo de amadurecimento, mas que tudo que aconteceu em sua vida, fez com que ela aprende-se que sentimentos ruins, dores e erros podem fazer parte da jornada de alguém, mas cabe a pessoa escolher se ficará presa de um lado do muro ou se irá ultrapassá-lo para enfim, seguir em frente.