Raíssa 11/11/2015
Na obra “A língua de Eulália”, Marcos Bagno busca tratar conceitos da linguística de forma clara e em prosa de modo que qualquer falante da língua consiga compreender o assunto tratado, mesmo se o leitor não tenha estudado alguma disciplina relacionada à essa área. O autor trata vários conceitos por meio das falas da professora Irene. Ele aborda o preconceito linguístico, questões de níveis sociais, variações linguísticas etc. O livro possui vinte e um capítulos que no período das aulas da professora Irene, uma das personagens, se dividem em fenômenos da variação linguística, ou seja, o autor utiliza cada capítulo para enfatizar uma variação da língua. A princípio, Irene explica à suas três alunas Vera, Emília e Sílvia, como a evolução da língua do latim para o português interfere na fala dos que utilizam o PNP (português não-padrão), comparando também o português com as outras línguas também formadas a partir do latim. Enquanto demonstra as variações através do tempo para suas alunas, a professora utiliza poemas clássicos como “Os Lusíadas” como forma de validação de argumentos, ela utiliza também músicas como “Cuitelinho” que possui marcas da linguagem não-padrão. Além disso, através de Irene, Bagno também expõe suas ideias a respeito do ensino da gramática nas escolas, explicando que deve-se ensinar a norma padrão, mas não deve-se descartar as variações da língua que cada aluno carrega consigo mesmo. Não restringindo o ensino apenas ao PP, mas em uma melhor formação com base em pesquisas por parte dos professores. A partir daí o objetivo do livro aparece quando Irene enfatiza a noção de erro da língua por conta das suas variações, demonstrando as diferenças entre o português padrão e o português não-padrão, em uma tentativa de acabar com o preconceito linguístico, que foi praticado por suas alunas para com Eulália, sua funcionária, que possui o PNP como língua materna, com a evidenciação da sequência lógica utilizada pelos falantes do PNP, deixando claro que as variações da língua possuem sua lógica e que não são erradas, apenas diferentes da língua padrão, mas que acabam sofrendo preconceito por serem línguas utilizadas muitas das vezes por pessoas que vivem em locais afastados do centro da cidade, ou em locais mais carentes, por conta das questões sociais, pois essas pessoas, em sua maioria, não possuem oportunidades de estudos ou, se possuem, acabam em escolas onde o ensino é autoritário e que não oferece espaço de pensamento para seus alunos, o que ocasiona no não conhecimento da norma padrão do português da parte dessas pessoas. Por conta da linguagem padrão ser utilizada por pessoas de classes mais altas, os alunos que estudam o PP encontram mais um obstáculo a ser vencido quando no ambiente em que vivem e quando as pessoas ao seu redor só utilizam o PNP e nas instituições de ensino sua língua é ignorada. Ele precisa aprender uma segunda língua sem sua prática constante e utilizar essa língua nas provas que lhes são aplicadas. Portanto, um indivíduo que não é falante do PP acaba ficando prejudicado em relação aos falantes dessa língua. No livro Manual de Linguística, os autores Maria Maura Cezario e Sebastião Votre exemplificam pesquisas sobre o caso da alternância do [l] para o [r] no português (bicic[l]eta – bicic[r]eta) (c[l]aro – c[r]aro), os resultados demonstram que esse é um caso de variação estável que caracteriza duas comunidades de fala: a forma não padrão [r] é usada pelos falantes das classes menos favorecidas e com baixo grau de escolaridade. A outra forma, canônica, é usada pelo grupo mais escolarizado. Tal pesquisa só especifica o fato de como a questão social implica na fala de cada indivíduo e como a escola deve se portar para não interferir na aprendizagem do mesmo. Sendo assim, cabe a cada educador compreender os ramos da linguística e educar cada aluno levando em consideração sua cultura e linguagem, mas não deixar de ensinar a norma padrão. Além de obter o real entendimento de que a variação da língua não é errada, mas sim, diferente da forma padrão, evitando, assim, o preconceito linguístico.