Milena @albumdeleitura 09/06/2018
A Língua de Eulália
Narrada em terceira pessoa, a história se inicia quando as amigas Vera, Sílvia e Emília decidem passar as férias de inverno na chácara de Itatibaia, onde mora a tia de Vera, Irene. Ela é uma linguista renomada que, apesar de ser uma professora universitária aposentada, continua estudando e pesquisando sobre sua maior paixão: a língua portuguesa e suas variedades linguísticas. Atualmente, seu principal objetivo é escrever um livro cuja temática seja o preconceito linguístico e a importância de combater a sua proliferação na sociedade.
Vera, assim como sua tia, é estudante da área de Letras, enquanto suas colegas Emília e Sílvia cursam Pedagogia e Psicologia, respectivamente. O que as três jovens professoras do curso primário de uma escola da cidade de São Paulo jamais poderiam imaginar, é que suas vidas, seus pré-conceitos e seus métodos de ensino mudariam profundamente após essas férias de inverno.
Assim que conhecem Eulália, uma senhora simples e alfabetizada depois de adulta, as amigas percebem que há algo "errado" em seu modo de falar, o que lhes causou certa estranheza e soou, por vezes, engraçado. Com o intuito de defender a amiga considerada parte da família, Irene mostra às jovens que a língua de Eulália não é errada, mas sim, diferente.
"É o mesmo que acontece com a letra da gente, não é? Cada um tem a sua letra, o seu jeito de escrever, que é único e exclusivo, e que até serve para identificar uma pessoa, mas que ao mesmo tempo pode ser lido e entendido pelos outros."
Ou seja, trata-se de uma variação não padrão, decorrente da heterogeneidade da língua portuguesa, causada por fatores históricos, sociais, econômicos, geográficos e temporais.
"Todas as coisas mudam, os costumes, as crenças, os meios de comunicação, as roupas... até os bichos evoluíram e continuam evoluindo... Por que a língua não haveria de mudar, não é?"
"A 'pureza da língua' de hoje já foi a 'contaminação na língua' de ontem. O que hoje os gramáticos defendem com unhas e dentes era combatido com todo vigor por seus ancestrais em épocas passadas."
"Por isso, a transformação do modo de encarar as variedades não padrão tem de ser feita em todos os campos da educação, sendo uma tarefa de todos e não apenas dos professores de língua portuguesa."
Após uma explicação prévia, as três amigas mostram interesse em aprender mais sobre o assunto. E, a partir de então, todas as noites, as quatro se reúnem, e Irene acaba transformando as férias em uma atualização pedagógica na qual as "alunas" reciclam seus conhecimentos linguísticos e descobrem que a língua portuguesa nada mais é que um processo ininterrupto de transformação.
Com uma linguagem simples e uma escrita contagiante, Marcos Bagno reflete sobre os métodos de ensino-aprendizagem nas escolas do país e a importância de combater o preconceito linguístico infundado. Ao contrário do que muitos pensam, o que os linguistas condenam é a forma como a norma padrão é ensinada e exigida na escola, deixando claro, porém, que é extremamente importante que todos tenham contato com essa variedade prestigiada e saibam quando usá-la. Em contrapartida, o conhecimento prévio desses alunos, bem como sua variedade linguística não devem ser descartados e nem condenados, uma vez que também exercem a função de veículo de comunicação, expressão e interação entre as pessoas.
O livro é bem didático e foi uma pena que eu não o havia lido antes. Sem dúvida, é uma obra extremamente imprescindível para todo profissional de Letras e também para todo e qualquer aspirante acadêmico e/o influenciador de conteúdo.
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