Leila de Carvalho e Gonçalves 24/07/2018
De Cambacará à Tatipirun
Esse conto para crianças foi escrito por Graciliano Ramos em 1937, logo após ele ser solto da prisão de Ilha Grande e ir morar num quarto de pensão com a esposa e as filhas no Rio de Janeiro. Ainda nesse mesmo ano, a obra lhe rendeu um prêmio do Ministério de Educação e Cultura, mas a primeira edição só foi publicada em 1939.
Através de uma linguagem coloquial, Graciliano apresenta um texto inovador por conta de um protagonista diferente. Raimundo, além da cabeça pelada, é um menino "com olhos de duas criaturas numa mesma cara" que, chacoteado pelas crianças, é vítima da exclusão.
Essa é uma narrativa mágica que "sem referências temporais explícitas, acontece em lugares imprecisos e imaginários como Cambacará e Tatipirun". O autor prossegue nessa linha fantasiosa, usando e abusando de personagens antropomorfizados, desde carros que falam e voam até um bando de animais falantes.
Para compor essa história também foram usados inúmeros neoligismos. Por exemplo, as personagens humanas foram batizadas de Caralâmpia, Pirenco, Talima, Sira e Picundo, mas também foram criadas palavras como "prinsecência" para reforçar a magia do texto que faz uma releitura de duas histórias infantis: Raimundo assemelha-se ao "Patinho Feio", de Hans Cristian Andersen, que precisa aprender a lidar com as diferenças, mas como "Alice", de Lewis Caroll, tem de lançar-se num mundo novo e surreal para poder ultrapassar seus limites através da reflexão.
Cinco estrelas!