Evy 12/02/2011DESAFIO LITERÁRIO 2011 - Tema: Biografia e/ou Memórias / Mês: Fevereiro (Livro 1)Esse livro é simplesmente perfeito. E eu gostaria muito de conseguir escrever uma resenha à altura dessa biografia tão maravilhosamente escrita por Benjamin Moser. Algo assim bem profissional, literário e especial. Mas me é completamente impossível não ser passional ao falar de Clarice e dessa biografia. Eu era fã de Clarice até ler esse livro. Agora eu sou algo acima disso, se é que existe!
Benjamin Moser, um norte-americano que publicou essa biografia com o nome de "Clarice vírgula" provavelmente se referindo ao romance que ela inicia com uma vírgula "Uma Aprendizagem", foi simplesmente impecável em sua escrita, na escolha dos nomes para os capítulos, na seleção de trechos de cartas, citações de seus romances e contos, enfim: impecável! Lançada nos Estados Unidos em 2009, foi resenhada com destaque pelo The New York Times e pela revista The Economist. Não é a toa todo esse sucesso! A obra é super completa e revela detalhes fundamentias da trajetória da escritora, desde sua origem até o sucesso e reconhecimento internacional.
Acho que o que mais me chamou atenção é que Moser construiu a história de Clarice através de suas próprias obras, fazendo relações entre sua vida e seus livros, que é como a autora gostava e fazia questão de ser reconhecida. Além disso, é impossível não notar o respeito dele por Clarice, seu profissionalismo e narrativa envolvente. Fez pesquisas profundas e até mesmo viajou para a Ucrânia, onde Clarice nasceu, no intuito de ser o mais fiel possível.
E foi. Tenho certeza de que a própria Clarice, que era tão discreta, ficaria feliz com esta biografia tão bem escrita. É com certeza o tipo de livro que você não quer que acabe nunca. Me senti vazia ao terminar a leitura, já com saudades de Clarice outra vez. É sem sombra de dúvidas, a minha autora brasileira (e mundial) favorita! Principalmente por ser tão humana, tão materna, tão apaixonada por esse nosso país que não quis nem mesmo visitar sua terra Natal quando convidada:
"Naquela terra eu literalmente nunca pisei: fui carregada de colo. Mas lembro-me de uma noite, na Polônia, na casa de um dos secretários da Embaixada, em que fui sozinha ao terraço: uma grande floresta negra apontava-me emocionalmente o caminho da Ucrânia. Senti o apelo. A Rússia me tinha também. Mas eu pertenço ao Brasil".
E apesar de não gostar de ser tratada como um Monstro Sagrado, ela o era. Uma escritora como poucas que com suas palavras nos atinge o fundo da alma, o inalcansável de nós mesmos, o que não queremos confrontar e é tão essencial. E apesar de ter lido essa biografia completa e muito bem escrita, Clarice continua sendo um mistério. Ela era um mistério até para si: "Sou tão misteriosa que não me entendo". Quem somos nós para querer entendê-la. Basta-nos senti-la:
"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir. Ou toca ou não toca".
No final das contas e em uma de suas últimas anotações, ela mesma definiu muito bem sua necessidade de escrever, sua sina e sua missão:
"Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida".
E nos pede pouco:
"Se me achar esquisita,
respeite também.
Até eu fui obrigada a me respeitar".
Biografia Perfeita. Clarice Perfeita. Leitura muito mais do que recomendada: essencial!