Jean 24/03/2024
Frank Dodd está morto e a cidade de Castle Rock pode ficar em paz novamente. O serial killer que aterrorizou o local por anos agora é apenas uma lenda urbana, usada para assustar criancinhas. Exceto para Tad Trenton, para quem Dodd é tudo, menos uma lenda. O espírito do assassino o observa da porta entreaberta do closet, todas as noites. Você pode me sentir mais perto? cada vez mais perto. Nos limites da cidade, Cujo ? um são Bernardo de noventa quilos, que pertence à família Camber ? se distrai perseguindo um coelho para dentro de um buraco, onde é mordido por um morcego raivoso. A transformação de Cujo, como ele incorpora o pior pesado de Tad Trenton e de sua mãe e como destrói a vida de todos a sua volta.
Duas famílias dividem as cenas de Cujo. A principal, os Trenton: Vic, Donna e o filho Tad; e os donos do cão: Joe, Charity e o filho Brett Camber. Aqui entra em cena uma das maiores qualidades da obra, a construção dos personagens e do ambiente familiar. King pinta a nós o cenário detalhado em que cada personagem está inserido. Os dramas, sonhos, conquistas, frustrações, medos, fracassos são detalhadamente construídos de forma a dar veracidade àquelas pessoas. Não estamos diante de heróis ou vilões da literatura. São pessoas normais, gente como a gente, que poderiam ser nossos vizinhos ou nós mesmos. É essa perfeita criação que faz com a história se desenrole tão bem, gere identificação com nossa rotina e, a certa altura, nos gele a espinha e cause pavor, claustrofobia e medo.
O são Bernardo Cujo tem seus pensamentos caninos traduzidos, e aí nós acompanhamos seu drama à medida que a doença avança e o lado terno perde espaço para a raiva, para o sentimento de matar. Essa transformação que vai nos levar ao ápice do livro é outra das qualidades da obra. O cão não é um vilão. Ele tenta resistir e em determinados momentos sabe que os pensamentos sangrentos não são normais, mas acaba sucumbindo e então, meus amigos, temos uma sequência de mais de 200 páginas de pura adrenalina.