Julia.Bellose 05/05/2024
Já dizia Tolstoy: ?Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira.? Esse livro mostra exatamente isso, o lado infeliz de uma suposta família perfeita. Acredito que isso vá incomodar muita gente, principalmente os acostumados com finais felizes, mas é aí que mora a beleza desse livro também: em como a Celeste conseguiu mostrar de forma tão pontual a essência humana, como conseguiu mostrar o lado mais feio e vulnerável do ser humano.
A narrativa gira em torno do drama familiar da família Lee, que após o desaparecimento da filha do meio, Lydia Lee, começa a se fragmentar e a mostrar que suas bases não eram tão bem estruturadas assim.
Antes de saber o que levou ao desaparecimento de Lydia, voltamos para o outono de 1957, quando James Lee conhece Maryleen, uma caloura de medicina em Harvard, que desde o início mostra ser diferente das mulheres daquela época. Maryleen é ambiciosa, ela quer o maior poder que alguém poderia desejar: conhecimento. Embriagada pelo primeiro amor, ela se torna exatamente o que jamais planejou: o esteriótipo de mulher dos anos 50, cujo único dever é cuidar da casa e dos filhos. Frustrada com o rumo que sua vida tomou, Maryleen deposita todos os seus sonhos e expectativas na sua filha, Lydia, uma pathological people pleaser, que nunca ? nem mesmo após sua morte ? descobre seu verdadeiro propósito, já que passou a vida na sombra dos desejos da mãe. De início, quando Lydia é declarada como morta, senti desesperança na Maryleen, não pela morte da filha, mas sim por mais uma vez não concretizar seu sonho, ela esperava que Lydia fosse uma mera extensão da mãe.
De todos os filhos, é com a Hannah que mais me identifico, não pela negligência parental, mas pelo jeito que ela observa a vida. Hannah foi criada na sombra de Lydia, que sempre se sentiu tão pequena, mas nunca enxergou o lado de sua irmã mais nova, cujo único sonho era ser tão ?perfeita? quanto ela. Hannah foi ensinada a ficar calada, por consequência, se tornou tradutora de silêncios, ela lê as entrelinhas, ela capta cada movimento, é sensível às falas e ações. Ela se apega tanto na ideia do amor que a família nunca deu, que na esperança de conseguir ficar minimamente mais próxima, coleciona itens sem valor que um dia pertenceram a eles.
4 estrelinhas. Eu amei?