Nath 18/10/2020Uma boa história, mas…… mal executada.
Eu não costumo me importar tanto quando acho um livro ruim, afinal, é só parar de ler e vida que segue. Mas o que realmente me frustra é quando pego um livro que traz uma boa história e desenvolve mal. Eu sigo lendo porque fico na esperança de que no final vá valer a pena, mas normalmente não vale. Talvez a culpa seja minha ao criar expectativas, mas de qualquer forma eu acabo sentindo que só perdi meu tempo. Infelizmente foi o caso desse livro. Eu queria muito gostar, a história é muito interessante, tem potencial, mas o desenvolvimento é sofrível.
Eu to acostumada com livros lentos (oi Stephen King, oi Stieg Larsson) e acho que quando feita da forma certa, uma construção mais lenta contribui pra criar a tensão do suspense pra envolver o leitor e tornar a experiência mais imersiva, mas não senti nada disso aqui. Esse livro é lento, mas no sentido de ser repetitivo, o que por consequência, o torna chato. Até a metade eu li as mesmas coisas acontecendo de novo e de novo e de novo.
Eu sei que essa história se baseia em fatos reais, mas não tenho como saber até onde o autor pôde captar a sequência do ocorrido e as personalidades dos envolvidos e até onde ele criou ao escrever, mas de qualquer forma, as duas coisas foram problemáticas pra mim durante a leitura.
Tudo me pareceu muito raso desde o começo, o que tornou difícil estabelecer alguma conexão com qualquer dos personagens. Ed e Lorraine Warren que pela premissa eu imaginei que seriam os destaques da narrativa, são pouco mais que figurantes, o que é uma grande contribuição para que a leitura se torne frustrante com o passar das páginas. No fim das contas, na maior parte do tempo, o único personagem com quem consegui me importar minimamente foi o filho mais velho da família, o Stephen. À propósito, os pais dele, Camen e Al, são os personagens mais insuportáveis que li nos últimos tempos.
A trama se inicia quando em certo ponto essa família se vê obrigada a mudar de cidade por conta de um problema de saúde que Stephen teve. Ao chegarem à casa nova, eles começam a perceber, cada qual à sua forma, que há claramente algo errado com aquele lugar. Carmen sente, Al sente, é tudo muito nítido, mas eles escolhem fechar os olhos e fingir que nada está acontecendo. Enquanto isso, são as crianças que sofrem as consequências desse estado de negação, em especial, Stephen. E isso se estende longamente de forma exaustiva e repetitiva até uma coisa finalmente despertar uma preocupação genuína desses pais: Stephen começou a "ouvir heavy metal, usar camisetas de banda e anéis de caveira." Gente, sério? Quer dizer, enquanto ele tava apavorado implorando que os pais acreditassem nele, não quiseram ouvir e ainda o encheram de acusações (mesmo que eles próprios soubessem que era tudo verdade), mas "meu deus, agora ele tá ouvindo Ozzy Osbourne, alguém ajuda meu filho em nome de Jesus." Sinceramente, isso é ridículo.
Na segunda metade do livro, a história parece ganhar algum ritmo, mas não dura muito, pois eventualmente a narrativa cai no mesmo padrão lento e repetitivo de antes. Ainda assim, a escrita não ajudou muito nessa aparente pretensão de "movimentar" um pouco as coisas, pois essa mudança de ritmo acontece de forma brusca, então "do nada" os episódios paranormais enfrentados pela família ficam muito mais severos, em um nível que chega a ser exageradamente irreal e que fica nítido que foram acrescentados pelo autor com o único propósito de chocar o leitor. Em geral, não vejo problemas nisso, porém, a escrita é tão mal estruturada que os acontecimentos não convencem como parte de uma história com o mínimo de verossimilhança e tudo parece que foi só jogado e forçado.
Outra coisa que me incomodou muito foi o fato de que o ápice da história foi deixado literalmente para as últimas cinco páginas do livro. Inclusive, nesse ponto acontece algo ridiculamente engraçado que foi um personagem fazer uma piadinha sobre o filme “O Exorcista” referindo-se ao fato de que nada tão fantasioso/apelativo como no filme poderia acontecer na realidade. Interessante nesse contexto, já que esse livro é tão apelativo quanto (em alguns pontos até mais), só que com uma qualidade infinitamente inferior.
A cena final, que como mencionei, deveria ser o ápice do livro, se desenvolve tão mal quanto o restante da trama: é vaga, corrida e tudo é muito conveniente. O tipo de coisa que a gente termina de ler e com tédio, pensa: todo aquele escândalo pra isso?
Enfim, insisti na leitura porque além de as histórias que envolvem o casal Warren terem me interessado e me agradado no cinema, reconheci essa história do filme "Evocando Espíritos" que gostei bastante na época em que assisti e achei que seria interessante ter a experiência de conhecer a história pelo livro, mas infelizmente, não fui feliz na escolha dessa vez. No comparativo entre livro e filme, nesse caso, acho melhor assistir o filme.