Josy 10/08/2023
"Uma noite a sós consigo mesmas e o que mais temem"
Eis um verdadeiro conto de terror nos tempos modernos. Hex narra a história de uma cidade pacata nos EUA, que há quase 400 anos é assombrada por uma bruxa: Acusada de bruxaria e condenada à fogueira com requintes de crueldade, Katherine desenvolveu um ódio ferrenho e jurou se vingar da cidade, e mesmo depois de morta, continua aparecendo aleatoriamente na cidade de Black Spring ao longo desses anos, sussurrando perversões e malignidades, causando mortes súbitas quando provocada e impedindo que os moradores deixem a cidade assombrando-os com pensamentos e ideações suicidas quanto mais tempo e mais longe ficam de Black Spring e da própria Katherine. Com a evolução e chegada da tecnologia, é criado um app onde todos os moradores podem informar onde a bruxa está, para evitar que turistas e forasteiros a vejam, mantendo bem escondido o segredo e proporcionando uma vida quase "normal" aos nem tão pacatos habitantes (exceto pelo fato de que há uma bruxa arrastando correntes, com olhos e boca costurados).
É um livro repleto de dicotomias: inicialmente as situações causadas pela aparição da bruxa, são em tom de comédia de tão absurdas, como se a história ainda não se levasse tão a sério, e a seguir, coisas realmente ruins e perturbadoras começam a acontecer. Ao mesmo tempo em que vemos a coragem, a ternura e resiliência dos protagonistas, também os vemos serem covardes, vis, violentos e capazes de qualquer coisa para se sentirem seguros. E assim como temos a tecnologia, o ar de contemporaneidade, temos uma bruxa medieval, e para além disso, um comportamento medieval e quase bestial dos cidadãos, o subtexto exige atenção a esses detalhes, sempre mostrando os dois lados e deixando claro que não há ninguém totalmente herói e ninguém totalmente vilão.
Nos agradecimentos o autor cita Stephen King, e o livro bebeu sim da fonte do mestre do terror, principalmente na ambientação, lembra um pouco It e também O Cemitério, mas ainda é uma obra bastante original, do meio pro final é simplesmente impossível largar e se tornou facilmente um dos livros de terror mais competentes que já li. Apesar de eu desejar outro final aos protagonistas, o autor foi corajoso e subversivo na finalização que é realmente um clímax perturbador, encaixa perfeitamente na história.
"Um mal gerava outro mal maior e, no fim das contas, tudo podia ser traçado de volta para Black Spring. Black Spring havia provocado tudo isso a si mesma."