jpmondoni 01/02/2019Picos e mais picosComo alguém que gosta de RHCP e aprecia as músicas, era difícil imaginar mesmo que a vida destes caras fosse algo diferente de um punhado de loucuras e maluquices desde o primeiro dia. Porém, entendendo as entranhas culturais e sociais de um personagem tão importante para a música no cenário dos anos 80, 90 e 2000, é até um pouco triste e frustrante estar com Kiedis nessa história.
Nunca usei drogas, talvez por pura caretice ou por ter medo desde sempre e não me arrependo disso. Creio que os livros são uma forma de me dar experiências na pele de outras pessoas que eu jamais vivenciarei em minha vida. Biografias são gêneros que dão essa sensação de uma forma assustadora. Já li várias biografias ou histórias envolvendo dependências químicas, como a do Walter Casgrande e Christiane F., sempre ficando intrigado e chocado.
Porém, a de Anthony Kiedis é outra coisa. Ela te transporta para um além de picos e mais picos (na veia e na vida, altos e baixos na carreira e na sua fisiologia). Ele te faz sentir junto, o tesão da heroína entrando em suas veias, o falso poder e indestrutibilidade que a cocaína o dava e a válvula de escape fatal que foi o crack. Ele te deixa triste, por entender que as tentativas de ficar limpo não bastam, que essa dependência te acompanha como um gorila na sua vida toda (cujo peso pode chegar até 400 kg). Ele também de deixa muito curioso e te faz rir com seu descobrimento do seu eu sexual. Entretanto, ele te faz entender os problemas, os perigos e as eternas renúncias.
Musicalmente falando, Kiedis e os Peppers são muito importantes para a história da música, surgindo numa época onde talentos pipocavam e precisavam chamar atenção. Um grupo de adolescentes na Califórnia começa a se apresentar de forma totalmente não ortodoxa, tocando pelados, completamente chapados e fazendo combinações de sons que são violentos, sujos e máquinas de orgasmo para os ouvidos de quem aprecia. Todo leitor desse livro deveria ouvir as demos do primeiro álbum para entender esse tipo de som.
Recomendo essa biografia para quem gosta de viver na pele de outra pessoa coisas que jamais viveria, mesmo que nesta pele hajam muitas cicatrizes.