Dani 13/09/2023
Linguagem popular e acessível
É um ótimo livro para quem está começando a entender e estudar os movimentos sociais de esquerda e sente tendências a ir para esse lado. Me apaixonei pela escrita da Djamila logo na introdução, por ser leve e fluir com rapidez. Em continuidade senti um desconforto, por parecer que estava lendo comentários de alguma página da internet, e apesar de ser uma coletânea de artigos ao blog da Carta Capital, eu entrelacei a imagem da Djamila a uma pessoa acadêmica. Presumi que seria um livro carregado de termos difíceis, ou até mesmo estritamente acadêmico, completamente denso e com uma escrita bruta. E de fato é recheado de fontes e possui alguns termos acadêmicos, porém de uma forma fácil de compreender, que funciona como um gancho ao leitor para que ele possa pesquisar mais sobre esse movimento que é pouco debatido até mesmo dentro da esquerda. Então, você entende que o livro não foi feito para a classe elitista acadêmica e sim para o povo e por isso possui essa linguagem virtual, por ser o que é popular hoje em dia, ou seja, é acessível. A partir desse momento, fiquei apaixonada pela Djamila porque ela entendeu a humildade que a maioria da esquerda acadêmica não consegue atingir, que é retirar a arrogância que a academia carrega e fazer o popular entender a importância da luta do feminismo negro. Entra em contraste com Karl Marx, que ao escrever o Manifesto do partido comunista fez um livro sobre os direitos do proletário e a guerra de classes, porém para a classe elitista.
Para quem já tem a bagagem de estudos que a esquerda proporciona pode até parecer um livro cheio de obviedades, mas é importante lembrar que esses artigos são de 2015-2017, então possivelmente se hoje a maioria da esquerda sabe o que sabe sobre o movimento feminista de mulheres pretas foi porque a Djamila e outras mulheres pretas falaram sobre em uma época que ninguém falou e de forma compreensível, e esse eco foi repassado até as bordas da esquerda, de quem está chegando agora. Infelizmente é um movimento que ainda não é tão comentado com tanta intensidade que as outras pautas, e que por diversas vezes aparece um pseudo esquerdista tentando invalidar os argumentos de uma mulher preta. É reconfortante ler algo que nos faça se sentir representado, mas é impossível se sentir representado por um livro sobre feminismo negro se você for branca ou branco, logo é fundamental que você tenha empatia para poder entendê-lo por completo e se considerar uma pessoa antirracista.