Stella F.. 05/11/2021
Vazio Estrutural
O livro da psicanalista Ana Suy, que acompanho nas redes sociais, trata do vazio estrutural, um tema caro à psicanálise. Dividido em três partes: O que preenche; O que esvazia; O que preenche e esvazia ao mesmo tempo.
Em seu prefácio a psicanalista Rita Manso vai nos dizer que é um livro sobre “gente incompleta, que se descompleta a todo instante no contato com o outro”. (posição 101)
Atravessado pelo discurso psicanalítico vai nos apresentar o conceito de vazio como sendo “aquilo que dá lugar ao desejo quando o sujeito passa a desejar ser desejado por outro sujeito (isto é, por outro vazio).” (posição 106) Segundo Manso, a autora, “tenta contornar o seu vazio, escrevendo, não com finalidade terapêutica, embora ela se dê, mas para sentir a vida e ter sobre ela um relativo controle da medida do enche-esvazia do vazio, atirando-se no penhasco da vida com palavras para se manter viva.” (posição 115-116)
Gostei muito do livro. Trata do vazio, do amor idealizado, do ato de escrever e porque escrever, sobre o preenchimento do vazio com comida, automutilação, e muitos outros assuntos pertinentes. Linguagem simples, e apesar de pontuar assuntos que percebemos como psicanalítico, é de fácil entendimento e compreensão.
Da parte 1 (O que preenche) destaco os seguintes poemas: Silêncio; O Amor que não Ama; Dentro de Mim Estou em Ti; Cócegas; Perguntas; Sonho Compartilhado; Quando você não me quer; CorPalavra e Da Falta que excede.
“Há algo de extremamente sedutor no silêncio. Talvez seja simplesmente a ausência de qualquer coisa. Tal como uma folha em branco contém em si todos os desenhos do mundo, tal como um pedaço de barro contém em si todas as esculturas do mundo, o silêncio carrega consigo todas as palavras do mundo. O silêncio é infinito, o dizer é tão limitado.” (posição 160-161)
“Escrever é como criar um duplo, é como criar um espelho que não reflete a minha imagem, mas as palavras que moram em mim.” (posição 466)
Da parte 2 (O que esvazia) destaco os seguintes poemas: Quarenta e tanto; Dose de Maldade; Não Pise no Meu Vazio e Confissões sobre uma tentativa de escrever.
“Quem já amou, bem sabe que o amor machuca. Tal como a felicidade dói. Sentir é sempre dolorido. Mesmo quando sentir é bom. Chamo de dor tudo aquilo que me afeta.” (posição 612)
“Amar é permitir que o outro brinque com os seus vazios. Desamar é quando o outro enche o vazio com o qual lhe foi permitido brincar.” (posição 887)
Da parte 3 (Do que preenche e esvazia ao mesmo tempo) destaco os seguintes poemas: Caro Amor da Minha Vida; Onde acontece o Amor?; Mas não muito e Alfabeto Feminino.
“Um pedaço meu tem sempre que estar sem dono, um pedaço meu tem sempre que ser de ninguém, nem mesmo meu. Preciso de um pedaço meu que não tenha bússola nem nome e que me permita que ainda que eu morra de amores ou de desamores por este homem, ainda assim esse pedaço meu, que ficou de fora de tudo isso, sobreviva.” (posição 1032)