Leila de Carvalho e Gonçalves 15/01/2019
Ser Ou Nao Ser
Karnal não é só um admirador mas também um conhecedor da obra shakespeariana e já faz alguns anos que acompanho suas palestras sobre o assunto.
Por conseguinte, ?O Que Aprendi Com Hamlet? despertou de imediato meu interesse e uma vez concluída suas 208 páginas, posso afiançar que trata-se de um pertinente aliado para quem pretende ou já conhece o melancólico príncipe dinamarquês.
Uma de suas particularidades reside na perspectiva histórica dada pelo autor para a tragédia, tecendo considerações que muitas vezes escapam do olhar do leigo e um exemplo é a relação entre o início da linhagem Tudor e o casamento da Rainha Gertrudes com seu cunhado Cláudio, a mãe e o tio do protagonista que dá título à peça.
Em linhas gerais, após uma breve introdução, o livro divide-se em cinco capítulos para descrever e discutir cada ato da peça. São eles:
* Ato I - O Governo É Fruto Da Sociedade Que É Governada.
* Ato II - No Mundo Que É Um Palco, Nosso Papel É Insuportável E Quase Ninguém É O Que Aparenta Ser.
* Ato III - Todos Somos Contraditórios, Heróis Com Traços De Vilania.
* Ato IV - Pensar Leva À Prudência, Mas Em Excesso Pode anos Acovardar.
* Ato V - O Fim Está Próximo.
Em seguida, ?O Que Aprendi Com Hamlet? apresenta a interpretação de Karnal e também a de sua colaboradora Valderez Carneiro da Silva, tradutora e especialista rm Shakespeare. A primeira está baseada na subjetividade da consciência e nos desafios da sociabilidade; já a segunda realça as figuras femininas e usa a Bíblia para iluminar a peça e exaltar erro da vingança.
Entretanto, como afirma o crítico Sérgio Salvia Coelho: ?não há ação em ?Hamlet? que não sirva para a reflexão, todo ato é uma impostura, portanto esta peça admite ilimitadas interpretações, como um quebra-cabeças impossível de ser montado?. Consequentemente, o ideal é que ela seja entendida de acordo com quem a lê e estes dois pareceres devem servir como reflexão para criar, complementar ou manter o seu.
O livro ainda discorre sobre a leitura do texto original em inglês clássico, comenta a respeito das diferentes versões da tragédia para o português, as adaptações para o cinema e livros inspirados na história. Por sinal, o autor escolheu a tradução de Anna Amelia de Queiroz Carneiro de Mendonça e Bárbara Heliodora que consta no Volume I do ?Teatro Completo - William Shakespeare?. Publicada pela Editora Nova Aguilar, é uma boa sugestão, caso esteja em dúvida sobre qual escolher para acompanhar a leitura.
Quanto a esta edição, ela prima pela costumeira qualidade da Editora Casa da Palavra. Em capa brochura com abas, o miolo do livro foi impresso em papel Pólen Soft de boa gramatura e a fonte escolhida, Minion Pro, proporciona uma confortável leitura.
Para encerrar, Karnal possui cinco vídeos no YouTube especialmente dedicados à obra de Shakespeare. Recomendo, inclusive, salvei nos meus ?Favoritos?.
Nota: entre as obras inspirados na peça, tomo a liberdade de incluir o filme ?O Rei Leão?, dos Estúdios Disney, e os romances ?Graça Infinita?, de David Foster Wallace, e ?Enclausurado?, de Ian McEwan.