Marcela 14/03/2020
"O que falar dessa autora, que eu mal conheço, mas já considero pakas?"
Após levar um pé na bunda do namorado quando menos esperava, Fernanda fica sem chão. Afinal, por que o Vinícius terminou com ela subitamente? Ainda triste, ela tenta tocar a vida sozinha até que um dia, enquanto olhava a lista de aniversariantes no Facebook, percebe que, por coincidência, todos os garotos de quem ela gostou na vida (e a decepcionaram de alguma forma) nasceram no final de julho. Movida pela curiosidade, ela começa a pesquisar sobre signos e a influência dos astros em relacionamentos e se convence não apenas de que tudo é real, como também que está mais do que comprovado que ela não deve se envolver mais com leoninos. Eis que ela tem a brilhante ideia de seguir a astrologia para se envolver com a "pessoa certa" dessa vez e, com o objetivo de encontrar os candidatos, traça um plano mirabolante que envolve lógicas que não fazem o menor sentido, informações de registros em cartório, horas stalkeando nas redes sociais para descobrir mais sobre eles e "encontros casuais" baseados nas confirmações em eventos e/ou locais de trabalho deles. No entanto, ao mesmo tempo em que se dedica ao Projeto Escorpião, como é chamado o seu plano pouco usual de encontrar um escorpiano para ser seu futuro namorado, Nanda acaba se aproximando de Cadu, o sobrinho do dono do restaurante onde ela faz estágio, e que irá substituí-la em sua função administrativa após ela se formar. Em outras palavras: o cara que, apesar de bonito e legal, vai roubar seu emprego.
Eu gostei MUITO da escrita da Aione. Ela conseguiu construir muito bem a protagonista com base em vivências típicas de uma jovem nascida nos anos 1990. Há referências à febre do Rouge; à revista Capricho, com seus testes e a coleção de posters dos caras considerados mais sexy da época; à obsessão com Robert Pattinson em Crepúsculo; a clássicos da sessão da tarde que marcaram uma geração; e até àquela fase de pré-adolescência em que você não tem um bom nível de inglês e comete gafes como sofrer por um garoto ouvindo Because of You, da Kelly Clarkson, achando que tem tudo a ver com a situação, sem saber que na verdade é uma canção falando sobre seu pai. Me senti quase fazendo um checklist de identificação com a Fernanda em vários momentos... embora em outros eu discordasse dela e concordasse mais com o modo de pensar mais pragmático de sua melhor amiga, Dani. Além disso, a Nanda passa pelos corres de uma jovem comum de classe média, precisando se desdobrar para conciliar faculdade e estágio ao mesmo tempo em que encara perrengues em transportes públicos lotados, lida com o TCC e tenta arranjar um tempinho pra si mesma e sua vida social.
"Escrito nas Estrelas?" é um new adult com uma vibe de chick-lit, sendo leve, divertido e fofo, girando em torno de uma jornada de autodescoberta pessoal em meio aos desafios da vida universitária e à adaptação ao mercado de trabalho. Após o fim do seu último relacionamento, Nanda passa por um período turbulento, onde precisa lidar com as mágoas do término; a percepção de sua carência afetiva; a corrida contra o tempo para finalizar seu TCC; o fato de continuar cumprindo suas funções no estágio enquanto envia currículos para outras vagas (e é tristemente ignorada); investigar possíveis pretendentes na internet; visitar a família em sua cidade natal nos finais de semana; decidir quais os seus sentimentos em relação ao charmoso novo colega; e, principalmente, descobrir quais os seus sonhos e objetivos individuais, já que ela nunca teve tempo de pensar em si mesma e amadurecer só. Senti que isso tudo, aliado a construção de caráter dos personagens e suas histórias pessoais de background, tornou a história contada no livro bem verossímil e real... como se fosse possível de acontecer com você mesma ou com uma de suas amigas (e, na verdade, todo mundo acaba passando por essa fase também em algum momento), o que é bem interessante para variar um pouco da ficção do tipo idealizada e perfeita demais para ser de verdade.
Por fim, quero endossar o apelo para que dêem espaço e valorizem a literatura nacional, pois há várias histórias boas sendo contadas por aí. E esse é, facilmente, um dos livros do gênero mais bem amarrados e inspiradores que li.