Pandora 18/04/2019Eu não sei bem expressar o quanto gostei deste livro: é aquele tipo de leitura que à princípio não te agrada - até te repele - e depois você vai se encantando com tudo, da ideia à escrita. Pra começar, não gostei da sinopse: a ideia de um homem ser obcecado sobre o que havia acontecido em três dias de Carnaval há três anos não me conquistou. Li porque peguei o livro na portaria, pus na bolsa e saí... na rua terminei outro livro e peguei este. Que bom! Porque eu amei!
Gauna é um rapaz comum, um tanto inseguro e covarde, que deseja se firmar como “macho” perante os amigos e a sociedade, mas que não tem bem certeza de como agir. Ele frequenta um grupo composto por rapazes da sua idade e um homem mais velho, que apesar de ser um escroto, os rapazes seguem e admiram. Na verdade ele tem um único amigo: Larsen, com quem divide um quarto. Um dia, conhece Clara e seu pai, o bruxo Taboada; se apaixona pela moça e passa a viver entre aquilo que sente e deseja e aquilo que supõe deva aparentar ser.
É uma narrativa que cresce aos poucos, no início você se pergunta qual o sentido daquilo, aonde vai dar, mas quando vê está envolvido numa história cheia de simbolismos, que vale uma segunda ou terceira leituras, porque sempre há mais um detalhe a encontrar.
Bioy Casares não só é um grande escritor (porque grandes escritores nunca morrem), é também de uma sutileza e ironia ímpares; talvez por isso sua literatura não tenha, por vezes, sido bem compreendida e apreciada. Vi tantas críticas de leitores ao machismo nesta obra, mais ou menos como não ver a crítica social/política em “Mulheres de Atenas”, do Chico Buarque. Uma pena!
E o final? Simplesmente sen-sa-ci-o-nal!!! Um livro para ser lido e relido.