July Weiss 28/04/2021Um livro que dá voz àqueles que foram silenciados | @estantegenial"Acredito que amamos histórias tristes apenas nos livros ou nas óperas. Na vida real, todos nós ansiamos por um final feliz".
Anastácia casou na sua primeira temporada social com Jardel, o Conde De Vienne, que aparentava ser o homem que qualquer mulher desejaria. Mas nos primeiros meses de casamento, viu que fora enganada. Ele estava muito distante do marido dos sonhos — o homem que jurou amá-la e protegê-la, era, na verdade, agressivo, manipulador e obsessivo.
Ao descobrir a verdade sobre os negócios do Conde, Anastácia tenta desmascará-lo para a sociedade francesa. Mas como acontecia com as mulheres que ousavam desafiar seus maridos, Anastácia foi tida como louca. E assim, foi internada no Hospício Pedro II, no Rio de Janeiro, onde recebeu todos os tipos de tortura e privação.
Após três anos presa, Anastácia recebe a chance de recomeçar, mas, muito mais do que isso, ela deseja também criar oportunidades para outras pessoas recomeçarem. É na realização de seu sonho, a construção de um abrigo para mulheres que sofreram algum tipo de violência como ela, que Anastácia conhece Benício de Sá, um empreiteiro que também possui muitas marcas do passado.
Confesso que eu me surpreendi a cada página, pois estava esperando uma história totalmente focada no romance entre Anastácia e Benício, mas posso dizer que isso ficou em segundo plano. A autora aborda questões muito profundas, como a escravidão no Brasil, a libertação dos negros e as dificuldades que eles encontravam mesmo após livres - não conseguiam empregos, eram vistos como inferiores e eram ignorados pela sociedade.
A escrita da autora é muito boa e fácil de ler, e a narrativa flui bem, ainda que em alguns momentos fique um pouco cansativa por algumas repetições exageradas. Mas isso não tira a importância que a obra tem, o protagonismo que o livro atribui a todos aqueles que nunca tiveram sua história contada. Com personagens únicos, como o advogado Samuel de Sá, filho de uma escrava, que luta pela liberdade e igualdade de homens e mulheres negros.
Livre Para Recomeçar é um livro lindo, emocionante mas também revoltante em alguns momentos, pois nos faz perceber que, enquanto sociedade, ainda temos muito a evoluir.
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