Rafael 09/05/2020
Uma ode ao machismo
Talvez a maior proeza de Zorbás seja sua misoginia que, ao que parece, é compartilhada pelo autor dessa obra que, definitivamente, não tem nada de especial. Sim, as palavras são duras para demonstrar a profunda decepção com esse livro que, pela resenha contida na sua capa, prometia ser digno de ser lido. Doce ilusão ou marketing apropriado. Zorbás não tem nada de especial e sua vida está longe de ser exemplo de qualquer coisa, ou, melhor dizendo, é o exemplo claro daquilo que, neste século, já não pode mais ser admitido, ainda mais no que se refere ao (des) respeito às mulheres. Confesso que meu desgosto pela obra se deu, unicamente, em função do machismo nela contido, que transborda a cada linha e, certamente, me deixou cego para apreciar eventuais outras "belezas" que ela pudesse proporcionar. Claro que entendo o contexto e a época em que o livro foi escrito, mas não admito que isso sirva de eventual "justificativa" para um tratamento tão vil ao sexo feminino. E, não, esse livro não deve ser encarado como um registro do "tempo", a marca de uma época, para que as pessoas do "futuro" possam fazer uma crítica à esse respeito. Acredito que, simplesmente, esse tipo de narrativa não deve persistir, afinal eu não preciso ler um romance que valorize os horrores do nazismo para criticá-lo, se a comparação é cabível. Isto é, não acredito que a literatura tenha essa função que, na verdade, deve ser deixada para os livros de história. Afora isso, e como dito, Zorbás é apenas um boçal que não tem nada demais a mostrar ou revelar. Quem teve contato com Riobaldo Tatarana e Fabiano não precisa, absolutamente, conhecer Zorbás para ter acesso à sensibilidade do indivíduo simples que traz consigo conhecimentos profundos da alma humana que são externados na exata medida da humildade de sua instrução formal. Zorbás é um espertalhão, misógino, cruel e, como nominado várias vezes pelo narrador, um sacripanta. Aliás, talvez seja isso mesmo que o autor tenha pretendido demonstrar, é dizer, a horrível face humana que, por ventura, pode habitar em nós. É essa, decerto, a única "qualidade" que se pode extrair da obra, ou seja, ter contato com as incongruências intrínsecas à nossa condição humana. Mas isso não é suficiente para alçar o livro à categoria daqueles que merecem um lugar na estante. Se sua lista de leitura tem outras obras mais importantes, não perca tempo por aqui.