A Maçã no Escuro -

    Clarice Lispector

    Rocco
    1992
    336 páginas
    11h 12m
    ISBN-13: 9788532508744
    Português Brasileiro

    Seriam os atos do homem, às vezes os mais cruéis, necessários para elevá-lo à condição de imagem e razão? Em A maçã no escuro , Clarice Lispector faz crer que sim, transformando o atordoado Martim em um novo homem após ter supostamente assassinado a mulher. Fugindo do crime, Martim acaba descobrindo-se como homem, desprezando os antigos valores estabelecidos em sua vida. Na corrida por uma nova existência, ele se revela numa outra condição. Sua fuga, em vez de isolá-lo, remonta à criação do homem, de um novo ser surgido do nada. A narrativa, próxima da criação bíblica, em vez de julgar os personagens culpados ou inocentes, faz deles aprendizes do mundo, onde cada etapa funciona como uma gênese de um ser recém-criado.

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    Filipe Quevedo25/02/2025Resenhou um livro
    4 (Muito bom)

    Que perdurem os ecos do silêncio...

    É, após ler os volumes Todos os contos, Todas as crônicas e Todas as cartas, com essa leitura de A maça no escuro completo minha trajetória também por todos os romances da autora, desde o inaugural (para mim e para ela) e marcante Perto do coração selvagem, finalizado no Halloween de 2017. Pois é, há quase 8 anos que (re)conheço Clarice e persigo com ela a essência do humano e o núcleo da vida. Com A maça no escuro, portanto, terminei a ficção adulta da escritora. Resta-me, quem sabe, ler os livros infantis... O livro começa misterioso. Martim, o primeiro protagonista masculino em um romance de Clarice, está fugindo de algo; parece ter cometido um "crime impremeditado"; um homem que "há duas semanas experimentara o poder de um ato". Martim deixa o hotel no qual se encontrava no ínicio da narrativa e chega a uma fazenda onde vive Vitória, a proprietária e Ermelinda, sua prima viúva, além de mais algumas pessoas. É nesta fazenda que se passa a maior parte do romance. A maça no escuro carrega, claro, os atributos do fazer literário todo único e próprio da autora. O texto de Clarice é muito exclusivo dela, e aqui não é diferente. O que ela escolhe enfocar e sobretudo a forma de apresentar esses enfoques através das palavras é algo sem paralelos mesmo. É inescapável que assim seja devido a complexidade temática e o texto tateante e espontâneo da Esfinge. Como bem define Rosiska Darcy de Oliveira durante o posfácio: "Clarice é uma criadora que põe em cena o ato de criar como um músico que improvisa no palco." Uma vez mais, como em tantos outros livros da escritora, o cerne da obra é a obsessiva necessidade de Clarice em questionar, investigar e analisar elementos profundos e imateriais da existência humana. Através principalmente dos três personagens acima mencionados, a autora interpela a vida e o mundo, como se com isso reivindicasse uma elucidação. Assim, o romance tenta tatear o intangível, desde coisas como identidade individual, Deus, o sentido da vida, a liberdade, a realidade, a existência, a incompatibilidade do corpo com a alma, a dissonância entre o ser e o mundo possível, até a linguagem, outro elemento muito caro a Clarice. É comum ver leitores(as) professando que não compreendem as obras da autora. Eu também não compreendo várias coisas dela. Suspeito que talvez a origem dessa incompreensão esteja ancorada no fato de que Clarice jamais diz o que deseja, pois se defronta com um obstáculo insuperável: a linguagem. Grande parte do que Clarice diz se encontra fora da superfície das palavras explícitas. O que ela grita está em camadas subterrâneas de transmissão. Ela até tenta vencer os limites da possibilidade de traduzir o mundo em texto, mas reconhece que a linguagem é aquém da vida; a linguagem é deficiente, inevitavelmente subordinada à realidade infinita em complexidade. Resta ouvir também os ecos até daquilo que jamais é dito. Semelhante a Clarice, no texto acima tão somente tateei a superfície imediata. Arde escrever sobre Clarice e ser insuficiente.

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