costa.literaria 09/06/2024
A narrativa de "ensaio sobre a cegueira" de José Saramago se desenvolve a partir de uma epidemia de cegueira branca, na qual as pessoas afetadas se sentem como mergulhadas em um mar de leite!
o fenômeno inusitado atinge um homem e, em seguida, se espalha, de forma que o governo isola os infectados em um sanatório. com ausência de higiene e segurança básica, os instintos mais primitivos de sobrevivência são despertados, e, nesse cenário caótico, a natureza sombria do comportamento humano é revelada, fazendo com que aquilo que era invisível se torne visível.
a história pode ser vista através dos olhos da única que mantém a visão: a esposa do oftalmologista. nessa condição, ela é forçada a tomar decisões extremas para proteger os que não enxergam, tomando atitudes que nos fazem questionar: somos moldados pelas circunstâncias ou revelamos nossa essência quando as regras desaparecem? a trajetória da personagem lembra o ditado popular "em terra de cego, quem tem olho é rei".
aqui, os personagens e o lugar não são nomeados. Saramago utiliza apenas adjetivos para identificá-los, o que traz para a narrativa um tom universal. afinal, essa situação poderia ocorrer com outras pessoas em qualquer outro lugar!
nessa história onde a ficção se entrelaça com uma realidade de forma inquietante e perturbadora, mergulhamos até as profundezas da natureza humana - de uma forma abrupta, desafiadora e até indigesta - Saramago traz inúmeras críticas e reflexões, o que torna a leitura desafiadora, precisando de pausas pra digerir o impacto.
"Fizemos dos olhos uma espécie de espelhos virados para dentro, com o resultado, muitas vezes, de mostrarem eles sem reserva o que estávamos tratando de negar com a boca."
afinal, precisaremos nos tornar cegos para realmente ver?