Iza 23/03/2024Somos cegos que veemQue leitura dificil! Tanto pela escrita, quanto pela língua e pela estória.
Por ser em português de Portugal, não é o maior dos problemas, apesar de ser uma linguagem mais antiga. Agora, o fato de não ter parágrafos, pontuação praticamente inexistente, separação entre falas - nunca foi visto! Demorei muito para me adaptar a leitura por este motivo.
A estória, em si, é difícil. Uma sociedade que vai perdendo a visão aos poucos. Como se adaptar a uma nova realidade sem ajuda de ninguém? Os primeiros, sendo tratados como animais, colocados em quarentena num lugar sem as mínimas condições de convivência (sem água, pouca comida)? perdem tudo, inclusive seus nomes, que os fazem ser quem são. Se não podem ver, e não podem vê-los, de que adianta saber um nome?
Uma nova sociedade é formada pelos que foram postos em quarentena, e todos precisam se adaptar à nova realidade. Mas, como?
Não é um livro fácil. Há cenas deploráveis. Você tenta se imaginar na situação em que estão, às vezes se questiona: ?o que eu faria??. Mas é inimaginável. Cenas que foi necessário fechar o livro para respirar um pouco e sair da situação.
Entretanto, se consegue chegar ao final, vale a pena. Esperava mais? Sim! Mas a reflexão que traz, vale a pena. Se colocar no lugar do outro. Enxergar o outro. Não deixar o medo cegar.
?Se eu voltar a ter olhos, olharei verdadeiramente os olhos dos outros, como se estivesse a ver-lhes a alma, A alma, perguntou o velho da venda preta, Ou o espírito, o nome pouco importa, foi então que, surpreendentemente, se tivermos em conta que se trata de pessoa que não passou por estudos adiantados, a rapariga dos óculos escuros disse, Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.?