Fabio Brust 10/11/2020
Desde que apareceu pela primeira vez na minha frente, distribuído no clube de assinaturas TAG, essa história me chamou atenção. Sou um fã confesso de histórias policiais desse gênero, esse "whodunit" que se passa em locações interessantes e tem personagens carismáticas que cativam o leitor. E essa história tem um diferencial: o crime é revisto pela mesma pessoa, mas pelos olhos de diferentes testemunhas todas as vezes, ao longo de oito dias.
Essa dinâmica é o que realmente move a história. Começamos com um personagem que não sabe quem é, o quê está fazendo ou o que vai acontecer e, conforme avançamos para os seguintes, vamos descobrindo mais sobre onde ele está e qual é o crime que (depois ele descobre) ele precisa desvendar. Primeiramente ficamos pensando sobre como seria possível justificar o que está acontecendo - essa ideia de o protagonista viver oito vezes o mesmo dia sob pontos de vista diferentes -, mas no final das contas o autor consegue tirar da manga uma explicação plausível (dentro do contexto) e que faz algum sentido de maneira geral e consegue sanar essa dúvida.
O crime a ser desvendado é bastante interessante, também, e a maneira como isso é feita parece realmente mostrar que o nosso protagonista não é nenhum detetive. Ele erra o tempo todo, se confunde, segue pistas falsas, cai na lábia de outros personagens e assim por diante. E é um pouco incômodo o fato de que, como ele já viveu o mesmo dia pelo menos uma vez, continue cometendo os mesmos erros. Certamente essa foi uma grande questão para o autor - será que ele poderia aprender com os erros que se viu cometendo e mudá-los, ou deve sempre cometê-los, mesmo sabendo o que aconteceu?
Na verdade, esse tipo de paradoxo é o que acaba confundindo um pouco no livro. Como temos, de certa maneira, uma volta no tempo a cada novo dia (que é sempre o mesmo), vemos os mesmos acontecimentos sob novas perspectivas e detalhes vão surgindo. O problema é que são tantos detalhes e tantas linhas de tempo diferentes que muitas das coisas são esquecidas pelo leitor, fazendo com que algumas descobertas do protagonistas pareçam ter vindo "do nada", ainda que tivessem estado lá. A questão não é a falta dos detalhes, mas o fato de ter tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que acabamos não conseguindo mantê-los em mente até a hora em que seriam úteis.
Mesmo assim, a história é muito rica! A locação, em especial, a mansão Blackheath, é excepcional. O lugar realmente passa a sensação que deveria passar, de ser misterioso e repleto de pessoas estranhas e cheias de segredos que precisamos desvendar junto com o personagem principal. Conforme avançamos, também vamos descobrindo quem são os próximos "hospedeiros" do protagonista, o que é bastante divertido.
Então, não fosse pela confusão causada pela própria premissa da história, ela seria ainda melhor. Mesmo assim, é uma leitura muito prazerosa que eu recomendaria sem pensar duas vezes!