Léxico familiar

Léxico familiar Natalia Ginzburg




Resenhas - Léxico Familiar


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Alexandre Kovacs / Mundo de K 17/02/2018

Natalia Ginzburg - Léxico familiar
Editora Companhia das Letras - 256 Páginas - Tradução: Homero Freitas de Andrade - Prefácio de Alejandro Zambra - Lançamento no Brasil: 19/02/2018 (Publicação original: 1963).

Há livros que são muito difíceis de explicar, não pela complexidade do argumento ou virtuosismo técnico do autor, muito pelo contrário, justamente nas obras supostamente mais simples é que reside o problema de identificar a sutileza ou o truque de mágica que encanta e sensibiliza o leitor. Assim ocorre com "Léxico familiar" de Natalia Ginzburg (1916-1991). Começo a resenha e não encontro paralelo na literatura clássica ou contemporânea em que possa me apoiar para explicar esta obra por comparação, tenho que começar do zero.

A autora escreveu uma autobiografia afetiva, narrando detalhes do cotidiano de sua família, desde o início da década de 1930 na Itália, período de crescimento do fascismo de Mussolini, anterior à Segunda Grande Guerra, até o período de pós-guerra. Um período negro da história mundial, principalmente para uma família judia e simpatizante do socialismo. No entanto, a narrativa é sempre centrada no microcosmo familiar, testemunhada pelos olhos da autora desde o tempo de menina. A chave para o processo narrativo é a lembrança das palavras e frases que constituíam as relações entre o pai, a mãe e os cinco filhos. Portanto, o truque de Ginzburg é revelar os efeitos do mundo exterior neste núcleo familiar, como a vida vai se adaptando à partir das mudanças no cenário político da Itália e da Europa como um todo. Outra peculiaridade deste livro é contar somente com "lugares, fatos e pessoas reais", mas ao mesmo tempo flertar com a ficção, como ocorre com certa frequência nos relatos memorialistas.

"Neste livro, lugares, fatos e pessoas são reais. Não inventei nada: e toda vez que, nas pegadas do meu velho costume de romancista, inventava, logo me sentia impelida a destruir tudo o que inventara. (...) Escrevi apenas aquilo de que me lembrava. Por isso, se este livro for lido como uma crônica, será possível objetar que apresenta infinitas lacunas. Embora extraído da realidade, acho que deva ser lido como se fosse um romance: ou seja, sem exigir dele nada a mais, ou a menos, do que um romance pode oferecer. (...) Não sentia muita vontade de falar de mim. De fato, esta não é a minha história, mas antes, mesmo com vazios e lacunas, a história de minha família. Devo acrescentar que, no decorrer de minha infância e adolescência, propunha‑me sempre a escrever um livro que contasse sobre as pessoas que viviam, então, ao meu redor. Este, em parte, é aquele livro: mas só em parte, porque a memória é lábil, e porque os livros extraídos da realidade frequentemente não passam de tênues vislumbres e estilhaços de tudo o que vimos e ouvimos." - Advertência (Págs. 15 e 16)

Neste ponto da resenha, o leitor poderá estar imaginando que o relato de Natalia Ginzburg assemelha-se ao de Primo Levi (1919-1987), outro grande escritor italiano, que contou os horrores do nazismo e do holocausto. Aqui a comparação ajuda no sentido de oposição, pois os estilos são radicalmente diferentes. Em "Léxico familiar" a autora se recusa a assumir o papel de vítima, embora certamente o seja, ela evita descrever os detalhes das perseguições raciais ou a brutalidade da guerra, seus personagens são pessoas simples do povo, amigos, vizinhos e familiares. Embora, muitas vezes, sejam citados personalidades famosas da política e cultura italiana do século XX, tais como: Cesare Pavese (poeta e romancista), Giulio Einaudi (fundador da famosa editora), Carlo Levi (escritor e pintor), Leone Ginzburg (professor e tradutor) e muitos outros.

E, no entanto, como uma série de fragmentos de história familiares e frases perdidas pode originar uma narrativa tão original? A própria autora descreve a importância deste léxico particular no seguinte trecho: "Uma dessas frases ou palavras faria com que nós, irmãos, reconhecêssemos uns aos outros na escuridão de uma gruta, entre milhões de pessoas (...) Essas frases são o nosso latim, o vocabulário de nossos tempos idos, como os hieróglifos dos egípcios ou dos assírio-babilônicos, o testemunho de um núcleo vital que deixou de existir, mas que sobrevive em seus textos, salvos da fúria das águas, da corrupção do tempo". O trecho abaixo do posfácio de Ettore Finazzi-Agrò é a ajuda que preciso para descrever como funciona o estilo da "memória afetiva" ou "gramática sentimental":

"Nesta obra a lembrança se desenrola seguindo os fios da linguagem, contendo na fala termos e acentos que, sendo de todos, são no entanto particulares, identificam uma dimensão e a circunscrevem: é esta, talvez, a causa do grande fascínio promanado, ainda hoje, de 'Léxico familiar', ou seja, a capacidade de reconstruir um mundo perdido sobretudo graças à memória das palavras que nele habitavam e que ninguém fora dele poderia entender plenamente senão tendo à mão esta gramática sentimental, cuja linguagem é própria, pois comum, e se torna comum a partir do 'dialeto' compartilhado entre os membros da família. (...) E o texto se torna, assim, uma partitura, sinfonia de vozes e notas, de frases repetidas e de versos esmigalhados, reduzidos à pura alusão fônica." - Posfácio de Ettore Finazzi-Agrò - "O bordado da memória" (Pág. 243)

O livro, herança do acervo da extinta Editora Cosac Naify (Coleção Mulheres Modernistas), foi relançado agora pela Companhia das Letras com prefácio inédito de Alejandro Zambra, um escritor perfeito para apresentar o trabalho de Natalia Ginzburg, simples e essencial.
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Biblioteca Álvaro Guerra 08/12/2023

“Neste livro, lugares, fatos e pessoas são reais. Não inventei nada”, escreve Natalia Ginzburg sobre sua obra mais célebre, Léxico familiar, de 1963. Nos anos 1930, como consequência da criação de leis raciais na Europa, inúmeras famílias foram obrigadas a deixar seu lar, tornando-se apátridas ou sendo literalmente destroçadas pela guerra que se seguiu. É nesse cenário que se inscrevem as memórias de Ginzburg. Nelas, o vocabulário afetivo de um clã de judeus antifascistas se contrapõe a um mundo sombrio, atravessado pelo autoritarismo.

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788535929874
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Gabriella 30/05/2021

fui curiosa por estar na lista da elena ferrante, mas não gostei. não sei o que eu tava esperando, mas não era isso. achei muito arrastado. empurrei a leitura até o final
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Gois 15/10/2023

O micro e o macro
Uma mistura entre o micro do cosmo familiar com o macro do contexto social e político da Itália no pré e pós guerra. Uma autobiografia ou autoficção que conta uma parte da história dela, da família dela e do país. Uma linguagem simples, remetendo ao léxico familiar, aquele que temos apenas com nossos familires e que só eles entendem. Mas conta de eventos grandes. Um livro simples, bom, muito bem escrito e apesar de não excepcional, tem uns trechos muito bons.
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Karin 05/07/2021

Um retrato da família e do passar do tempo. Recomendo!
?Viviam assim, em estreita amizade, dividindo entre o pouco que tinham, e sem se apoiar em nenhum grupo, sem fazer projetos para o futuro, porque não havia nenhum futuro possível; provavelmente a guerra estouraria e seria vencida pelos idiotas; porque, dizia Mario, os idiotas sempre venciam.?
Devo admitir que eu não estava muito empolgada para ler Léxico Familiar. Eu havia lido outro livro de memórias no início deste ano, Anarquistas, Graças a Deus, da Zélia Gattai e, embora tenha gostado, não estava empolgada para outra temporada do gênero. Mas a reunião do Lendo Mulheres Brasília me forçou a isso, e quão grata eu sou...
Embora pareça, por causa das citações que já juntei por aqui, o livro não é sobre o fascismo, mas sobre uma família que resiste a ele. Assim, a política de Mussolini serve somente como pano de fundo, para mostrar como a resistência a regime autoritário pode mudar a rotina e o destino de uma família. Iniciando nos primeiros anos de Mussolini, vamos acompanhando a cada vez menor distância entre o particular e o privado, conforme ocorre o endurecimento da ditadura e crescem os filhos do Sr. e da Sra. Levi.
O livro causa discordância na reunião do Lendo Mulheres. Algumas, como eu, amaram o livro. Achei a escrita de uma sensibilidade profunda. Natália se coloca em segundo plano, deixando claro que não é um livro autobiográfico, mas um retrato da sua família e de como suas falas e tradições moldaram aquele pequeno grupo ligado pelo sangue, por isso o léxico do título. Ao longo da leitura, me senti íntima e parte da família, ri, chorei, me angustiei, e percebi mais uma vez o poder da passagem do tempo.
Outros acharam o livro parado, maçante. Embora eu tenha achado isso um crime, leitura é particular, não tem jeito. Mas se eu fosse você leria e depois formaria minha própria opinião.
Recomendadíssimo!
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Mila F. @delivroemlivro_ 19/06/2018

Interessante, mas pode ser que não empolgue todos os leitores
Lessico Famigliare (1963) no Brasil: Léxico Familiar foi escrito pela italiana Natalia Ginzburg autora também de outras obras, era pertencente a uma família judaica e antifascista.

Começo logo esta resenha assumindo que quando li a sinopse achei muito interessante o conteúdo do livro, mas não criei tantas expectativas, pois não conhecia a escritora e este seria meu primeiro contato com sua obra.

O fato é que foi uma feliz surpresa, pois acompanhar o cotidiano da família de Natalia através das Crônicas e de seus textos memorialísticos em plena a Segunda Guerra Mundial. Foi uma experiência bem envolvente, devorei o livro, pois havia partes e determinadas situações que eram bem gerais de todas as famílias, mas que Natalia contou de forma a ficarem engraçadas, além do mais, amei muito as tiradas, atitudes e espontaneidade do pai da escritora. Era um professor universitário e tinha resposta para tudo e uma opinião forte sobre qualquer assunto.

Mesmo sendo um livro memorialístico, que nós remete uma autobiografia também, não é necessário conhecer a vida ou ser fã da escritora para apreciar a leitura. Estou dizendo isso, pois teria leitores que achariam necessário conhecer a escritora para ler suas memórias. Não é.

Aliás, logo nas notas a própria Natalia alerta que Léxico Familiar pode ser lido como um romance, mesmo que nomes, pessoas e lugares sejam reais e, de fato, ler como um romance torna a leitura ainda mais singular.

Não obstante, ao que já expus, Léxico Familiar, tem características bem marcantes e impressionantes, é um livro que fica na mente da gente, pois o cotidiano das famílias, por mais que sejam privados, se assemelham e em várias situações podem ser tensos, alegres, triste e cheios de provações, além de ser divertido e desafiador "labutar" com as diversas personalidades das pessoas que vivem sob o mesmo teto é uma experiência indescritível e inesquecível.

Alerto, no entanto, que apesar de eu ter apreciado muitíssimo o livro, tenho plena certeza que ele não é indicado a todo tipo de público, pois exige do leitor uma apreciação além das palavras e traz uma atmosfera clássica, ou seja, ideal para leitores já mais proficientes e que apreciem os clássicos literários.



site: www.delivroemlivro.com.br
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Ana Luiza 19/08/2018

Léxico Familiar – Natalia Guinzburg
SOBRE O LIVRO

Publicado em 1963, este é um relato sobre a vida cotidiana de uma tradicional família judia da burguesia na Itália, mais precisamente em Turim. Na primeira metade do século XX o país da escritora era mais um da Europa humanista e incentivadora das artes a sofrer com o avanço dos regimes fascistas e a criação de leis raciais que tornou milhares de cidadãos apátridas sendo obrigados a deixar para trás uma vida junto de seus familiares, ou ainda, por muitas vezes vendo sua família ser destroçada pela guerra que se seguiu.

“Neste livro, lugares, fatos e pessoas são reais. Não inventei nada.”

Sob a perspectiva de um mundo prestes a desabar, o livro se desenrola à partir do ponto de vista da autora que também é quem nos narra os fatos de sua própria vida na casa onde cresceu com seus pais e irmãos. Trata-se da história de uma família real, mas que deve ser lido como um romance.

Começando por uma semana de férias nas famosas montanhas que o patriarca da família proporcionava, as cenas são comuns: um jantar, uma roda em volta da lareira com a mãe contando casos e os resmungos frequentes do pai sempre tão impaciente. É assim que seremos aos poucos levados, por debates exaltados, a nos sentir parte desta família.

MINHA OPINIÃO

É impressionante como a arte de contar “causos”, por mais tristes ou reais que sejam é sentida tão intensamente pelo leitor nessa obra. O que a autora proporciona aqui é que sejamos parte de sua família, escrevendo em forma de romance fatos cotidianos que, não fosse pelo período em que se passam, todos poderiam se identificar. A doçura de uma mãe, a aspereza de um pai e as diferenças entre irmãos são a cereja do bolo deste livro onde o regime fascista afasta famílias, amigos e amantes. Cada “personagem” desta história colabora em algum momento para que a narrativa flua e encante o leitor cada vez mais.

A história nos é contada como se já a tivéssemos ouvido antes ,mas estivéssemos sendo carregados pela alegria de ouvi-la novamente. Sendo extremamente original por ter sido parte de uma experiência, é sem dúvida fascinante. Acredito que, por este motivo, apesar de ser escrito como se contado verbalmente, não trazendo divisão em capítulos, a leitura transcorra tão facilmente, sendo um pouco difícil, no entanto, parar em uma página e voltar a lê-lo, perdendo o fio da meada. Este é um livro para ser devorado.

Um dos personagens mais interessantes é o patriarca da família, aquele que chama aos filhos de “negros” ou diz que fazem “negrices” quando se comportam de forma deselegante, ou de “burro” se lhe fazem algo que seja considerado tolo ou inapropriado. O que quero dizer com este exemplo é que é preciso entender que algumas coisas são ditas em sentidos diferentes daqueles que aparentam, outras não passam de uma “parvoíce” do próprio ser que é, e outras não devem ser levadas tão a sério, mas sim, olhadas sob uma outra perspectiva.

Sendo este o relato sobre uma família de judeus, é claro que iremos nos deparar com a representação do que foi o regime fascista na Itália, como os nazistas chegaram e separaram famílias e a autora viu seu pai e dois de seus irmão serem presos, seu marido desaparecer e muitos daqueles com quem cresceu serem dizimados. No entanto, o propósito aqui não é contar a história da guerra, mas sim, contar a história de uma família, uma história que coube a uma de seus integrantes, levar a frente.

“É sempre melhor um governo de padres do que o fascismo – dizia minha mãe. – Dá no mesmo! Você não entende que dá no mesmo! É a mesma coisa! – dizia meu pai”

Apesar de todo o horror que a guerra causou, uma das passagens mais interessantes é a que diz que ao seu fim, uma sensação de embriaguez surgiu, um período de calmaria e tédio, onde já não se tinha mais do que se esconder ou pra onde fugir. É curioso pensar como essas pessoas, pessoas que vivenciaram este período se sentiram antes, durante e depois da guerra.

Posso dizer por fim, que esta é uma experiência fantástica e deliciosa de se viver. Imagine-se sentado em uma varanda com alguém já idoso lhe contando suas histórias enquanto você bebe um chá quente e mordisca um lanche. “Léxico Familiar” entrou para os livros favoritos da minha lista, simplesmente por ser tão pessoal, tão puro, tão distante de preocupações em agradar ou desagradar ao leitor, mas em contar tudo como de fato aconteceu. Seria uma enorme “parvoíce” não se proporcionar tal experiência.

site: http://resenhandosonhos.com/lexico-familiar-natalia-guinzburg/
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@fernandajfguimaraes 29/12/2020

Eu já era fã da Natalia e agora sou ainda mais. Recomendo a leitura sem medo.
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Lucy 29/07/2022

Lembrei da infância em casa e nosso próprio léxico familiar. As pequenas histórias, as músicas, os jeitos.
Além disso é simples sem ser simplório.
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