Lucas1429 11/10/2021
Em que o vilão é a principal referência
Veja bem, um autor branco escreveu um livro em que pensava fazer justiça à população negra, colocando-os como protagonistas em aventuras oriundas das pulp fiction, das sci-fi e do terror cósmico precursores de H.P. Lovecraft, que leva o nome da obra. Matt Ruff desafiou meu semblante quando li sua etnia e soube quem o era. Mas aí, até o desfecho, simpatizei com alguém que entra na estatística do: consciência de classe e raça não é luxo, muito menos um bicho, é dever.
Ao longo das 8 histórias aventurescas que se interligam ao final, divertidíssimas, aliás, a conformação ao principal vilão é clara, para os mais atentos já vem estampada na capa com seu título e conto homônimos - H.P. Lovecraft, um racista, machista, e demais adjetivos degradantes e denunciantes de tudo a que uma sociedade hoje manifesta não ser (e Atticus e sua turma sabem bem o que fazer com), é a metáfora chave!
Sem entregar muito, mesmo explícito, são personagens bem delineados, cientes de sua condição enquanto coletivo via mundo embranquecido, que encaram "monstros" análogos à identidade do homenageado cumprindo uma missão contra uma sociedade herdeira de uma KKK massônica nos EUA dos anos 50 - extremamente racista. Lovecraft moldou esse universo fantástico tão elogiado através de seu preconceito simbólico e com ele obteve o karma, não em vida, mas décadas depois, com alguém que se não pôde mudar o mundo por completo, acrescenta uma pontinha de dignidade e justiça aos marginalizados na literatura, a janela da alma.