Gabriel Aleksander 28/09/2020G.G. Diniz apresenta o Nordeste como você nunca viu! - literagabs.comNeste conto da coleção Carcarás, somos apresentados a um nordeste distópico onde o coronelismo passou a ser o regime político regente, colocando os indivíduos que ali viviam em assujeitamento, tendo como forma de dispositivo de controle uma coleira posta no pescoço das pessoas que explode caso as ordens não sejam cumpridas.
No vilarejo de Cedrinho existe uma médica que mesmo com os poucos recursos busca fazer seu melhor para salvar a todos que ali vivem, mesmo que com isso tenha que pagar o preço da sua própria saúde física e mental.
Durante mais um dia emocionalmente exaustivo em sua vida, Heloísa depara-se com um casal de visitantes inesperadas aparecendo no terreno de sua casa, nitidamente em fuga e com uma delas estando gravemente ferida.
O instinto de cuidado e proteção que rege as escolhas da nossa protagonista faz com que ela acolha aquelas mulheres, mesmo com os riscos envolvidos. Mas ao se envolver naquela situação, Heloísa passará a entender que o regime de opressão que vem se estendendo pelo nordeste, e que reduz as pessoas de seu vilarejo a servidão, precisa chegar ao fim.
Juntas, três mulheres se unirão para derrubar um sistema e buscar a reconstrução de seu lar, a terra que um dia lhes acolheu mas que passou a ser cenário de violência e estabelecimento de sub-humanidades.
“Morte Matada” foi meu primeiro contato em diversas esferas, tanto como a introdução às obras de G.G. Diniz, quanto ao movimento de Sertãopunk e histórias que se passassem no nordeste em geral.
Conforme lia o conto e a descrição de Cedrinho fui me recordando de lugares pelos quais já havia visitado na minha infância, rememorando cenários pelos quais passo sempre que viajo no meu estado e vendo na descrição daqueles personagens pessoas com as quais esbarrei ou convivi, o que garantiu a conexão com a narrativa construída e me fez viver as sensações de urgência estabelecidas de forma mais intensa.
Além do sentimento de reconhecimento aos cenários que a autora constrói e os personagens que ali coloca, devo destacar a genialidade do enredo em si, e como a autora constrói um mundo distópico autêntico, com a apresentação de mecanismos de controle originais e personagens que exalam sentimentos verossímeis. Desse modo, cria-se uma atmosfera desesperadora e de urgência, que faz com que o leitor não pare de ler o conto até chegar à última página.
Ao lado de “Sons da Fala” de Octavia Butler, o conto de G.G. Diniz se configura como um dos melhores contos que já li na vida, se estabelecendo no meu imaginário como referência de excelência quando o assunto é construir enredos distópicos.
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