FlorCavalcanti 31/03/2021
"Uma momento trágico da história da Europa: crescem o salazarismo português e o facismo italiano [...]
Pereira, jornalista apagado responsável pela página cultural de uma reduzida gazeta vespertina, protagoniza solidão, sonhos, a consciência de viver e de optar, ou talvez de não optar. Tão humano, se afirma Pereira sempre às margens do precipício."
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Uma história de solidão e opressão, um livro que nos leva a questionar a todo momento nossas certezas.
Pereira, como figura que escolhia não optar, que escolhia não se posicionar, vai percebendo através do arrependimento e do medo do posicionamento que se envolver em política na época em que vive é algo necessário, mas, que também é evitável e que cabe a cada um essa decisão.
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De certa forma, é revoltante realizar uma leitura que se propõe histórica, mas que é tão atual.
Qualquer pessoa indiferente ao esfacelamento da democracia e à disseminação da violência acaba atingida pela supressão da liberdade.
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"É um conto sobre arrependimento, disse Pereira, um belo conto sobre o arrependimento, tanto que o li como uma autobiografia"
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"A filosofia parece só tratar da verdade, mas talvez só diga fantasias. E a literatura parece só tratar de fantasias, mas talvez diga a verdade"
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"Perguntou-se: em que mundo eu vivo? E veio-olhe a estranha ideia de que ele, talvez, não vivesse, era como se já tivesse morto. Desde que sua mulher falecera, ele vivia como se estivesse morto. Ou melhor: só fazia pensar na morte, na ressurreição da carne, em que não acreditava, e em bobagens desse gênero, sua vida não passava de sobrevivência, de uma ficção de vida. E sentiu-se esgotado, afirma Pereira"