A Leitora Compulsiva 29/08/2023
O grande divisor de águas: Morro dos Ventos Uivantes!
AVALIAÇÃO: ????
Normalmente eu sigo um roteiro para fazer resenhas, mas este livro é tão perturbador que nenhum roteiro será suficiente pra sermos capazes de analisar todas as facetas do livro.
É um livro amado e odiado por muitos ao mesmo tempo e tem uma explicação bem convincente para isso.
A começar pelo fato de que não é um livro romântico ? sinto muito dizer. Se você está aqui esperando ler algo como Jane Austen ou Jane Eyre, feche imediatamente esse livro e saia. Não terá NADA disso aqui.
Arrisco dizer: neste livro a única coisa que realmente nos cativa são os animais da casa, os cavalos e a paisagem.
Você não vai se apegar a nenhum personagem: são todos horríveis, tanto em personalidade como caráter e moral.
Até mesmo aqueles que você acha inicialmente que poderão se salvar: não vão. Em uma cena ou mais, te mostrarão que podem ser mais podres do que jamais esperou. As verdades sombrias serão reveladas, manchando suas reputações irremediavelmente.
PONTOS POSITIVOS:
É até difícil achar um ponto positivo nesse livro mas vou tentar.
A começar pela escrita: eu particularmente amo a escrita refinada dos clássicos. Transmitem uma seriedade imortal nas páginas. São textos impossíveis de não levar a sério, e a Emily caprichou muito na linguagem do livro.
Todo o livro é não mais que uma fofoca contada entre um inquilino e uma empregada doméstica, e isso faz o livro ser difícil de ser analisado. Ambos podem ser parciais. São duvidosos o suficiente pra você acreditar no que estão contando, afinal: você só tem a palavra deles. Mas ao mesmo tempo e por isso mesmo: é surpreendente.
Depois da escrita magnífica da Emily, o próximo ponto positivo a se considerar, talvez, é a exposição do que há intrínseco dentro dos humanos.
As irmãs Brontë não fazem livros para endeusar pessoas ou mostrar sua parte boa: aqui, o intuito é revelar o que há de pior dentro de nós.
Nossos piores demônios, nosso mau gênio, e a inclinação ruim que há dentro de cada um de nós é exposta através dos personagens, em sua forma de falar e agir.
E por incrível que pareça: isso é um ponto positivo. Temos a tendência a querer encontrar em livros um mundo perfeito para escapar à realidade ? e tudo bem com isso; mas esses livros, que ilustram a realidade como ela é de fato, servem de alerta ao leitor sobre como não ser, e o que não fazer. E por isso mesmo, são fundamentais.
E talvez cabe me dizer que os personagens aqui construídos são bem executados. Posso não gostar de nenhum deles e suas ações, mas são independentes um do outro, e você poderia facilmente dizer que existiram na vida real se não souber que se trata de ficção. Na verdade, é justamente a presença de tantos defeitos em cada um que nos aproxima de senti-los como se fosse reais.
Mas aqui, não encontro mais nada positivo a dizer. Como eu disse ao começo dessa resenha: os personagens nos impedem de amá-los. São desprovidos de caráter, cínicos, por vezes, simplesmente insuportáveis. Dentre eles, o mais horrível é Heathcliff.
PONTOS NEGATIVOS:
Precisamos reforçar que os personagens são de longe os piores que já peguei para ler. Apesar de bem construídos pela autora, complexos da forma que gosto e elementares para a história, sinto que a Emily reuniu um grupo tóxico de pessoas dentro da mesma história. Não há um que se salve. Todos, absolutamente todos são odiáveis em graus diferentes.
E acredito que fazer um livro para todos os personagens serem odiados é algo arriscado e no mínimo não prazeroso para o leitor. Mas de novo: entendo que este FOI O OBJETIVO dela. E me sinto grata por isso.
Ainda no âmbito dos personagens: alguns são apenas mimados demais. Há personagens aqui dentro que simplesmente se recusam a pegar qualquer coisa que cai no chão, ou fazer coisas por conta própria. Eu sei que numa família rica do século XV isso tudo é perfeitamente possível, mas ainda assim: é totalmente irritante.
Mas saindo agora do cenário de análise dos personagens, há ainda outro ponto a se considerar: a escrita, na mesma medida que é ótima, também sabe ser densa demais.
Me peguei em várias partes do livro postergando a leitura para o próximo dia simplesmente porque os capítulos são longos o bastante e altamente descritivos. Sei que isso faz parte de livros clássicos, mas de novo: para um livro que só tem personagens horríveis, continuar a leitura se torna inviável num dia que você deseja ler algo mais ameno. E eu, com meu irrequieto e constante trabalho de segunda a sábado, me pegava querendo qualquer coisa ? qualquer coisa MESMO ? que não fosse essa história trágica.
Emily, te culpo por isso.
CONCLUSÃO:
Daí talvez você possa me questionar:
?Caraca Lah, por que mesmo após tantas críticas você deu um famigerado 4 estrelas para o livro??
Bem, posso explicar. O final foi a única parte prazerosa do livro e talvez a mais forte. No fim, este livro é sobre o que há de pior nós seres humanos, sim, mas também é sobre redenção. Aqui, o vilão não vence no final e por mais clichê que isso possa soar, depois de ler quase 32 capítulos de total desgraça e degradação, é apenas satisfatório poder dizer que tudo terminou bem. Os personagens encontraram redenção, felicidade e aprenderam valiosas lições ao longo da jornada. Eles descobriram o verdadeiro significado da amizade e a importância do perdão.
E pelo final, por ele apenas e mais nada, é que esse livro merece essas 4 estrelas. Depois de tudo que me fez passar e sentir, me senti perfeitamente vingada ao final.
Mais um livro que entra para minha coleção de favoritos após me fazer sofrer tanto e me emocionar na mesma medida. Foi uma honra participar disto aqui, obrigada Emily Brontë! ?