Matheus 07/08/2023
Gostinho do Céu!?
Não há como descrever o sentimento de reler As Crônicas de Nárnia após tantos anos; é com imensa alegria e os olhos marejados de lágrimas que encerro essa jornada por essa terra maravilhosa.
C.S. Lewis, é um magistral contador de histórias, ergueu uma obra literária de proporções épicas nas páginas das "Crônicas de Nárnia". Como um moderno escriba das parábolas bíblicas, Lewis entrelaçou metáforas e alegorias profundas, evocando uma grandiosidade que ressoa além dos limites do tempo.
Assim como os profetas do Antigo Testamento, Lewis lançou um manto de encanto sobre sua narrativa, transportando leitores para um reino mágico de Nárnia, onde criaturas fantásticas espelham a complexidade humana e as lutas morais. Tal qual o "Êxodo" de Moisés, as crianças Pevensie cruzam de um mundo para outro, encontrando provações, tentações e descobertas que ecoam a jornada do povo hebreu pelo deserto.
A figura de Aslam, o leão, emerge como uma representação do Divino, reminiscente do "Leão de Judá" na Bíblia, simbolizando poder, justiça e redenção. Aslam sacrifica-se, seguindo o exemplo do sacrifício supremo de Jesus Cristo, aludindo à crucificação e ressurreição. O próprio encontro de Aslam com Edmundo em "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa" é uma narrativa que espelha o perdão divino e a reconciliação.
A traição de Judas é reflexada na traição de Edmundo a seus irmãos, enquanto a transformação e amadurecimento das crianças refletem o crescimento espiritual e moral do ser humano. Lewis, como um hábil artesão, habilmente costurou esses comparativos bíblicos em sua trama, enriquecendo a obra com profundidade e relevância.
Em "As Crônicas de Nárnia", Lewis transcendeu a mera narrativa infantil, elevando-a a um plano de significado espiritual. Assim como o Novo Testamento é repleto de ensinamentos e parábolas que atravessaram séculos, Nárnia também permanece como uma obra atemporal que continua a iluminar os corações e mentes de leitores de todas as idades. Sua grandiosidade está em sua habilidade de unir mundos, retratando verdades eternas por meio de um manto de conto de fadas, garantindo que a luz de Nárnia brilhe através dos tempos, como uma estrela guia literária para aqueles que buscam entendimento e inspiração.
"A Última Batalha", é uma obra que ecoa com ricas parábolas e alegorias bíblicas, oferecendo uma reflexão profunda sobre o conflito entre o bem e o mal, a natureza da fé e a promessa da redenção. Ao traçar paralelos com a Bíblia, encontramos camadas de significado que elevam ainda mais a grandiosidade dessa obra.
A ascensão de um falso deus, Tash, e sua adoração em Calormânia reflete a idolatria e as falsas crenças que foram um tema recorrente nas Escrituras. Essa situação é comparável à narrativa do culto ao bezerro de ouro no Antigo Testamento, ressaltando os perigos da devoção cega e da busca por poder terreno.
O apocalíptico "fim do mundo" em "A Última Batalha" pode ser visto como uma representação do julgamento final. A destruição do mundo de Nárnia e a separação dos justos dos ímpios ressoam com as imagens bíblicas do juízo, enquanto a entrada na "verdadeira" Nárnia é comparável à promessa de um novo céu e uma nova terra na Bíblia.
O caráter sacrificial de Aslam ao receber aqueles que o seguem, ecoa a imagem de Jesus como o Bom Pastor que acolhe suas ovelhas. A maneira como personagens como Emeth, apesar de servirem Tash, são aceitos por Aslam, reflete a mensagem bíblica de que a graça e a misericórdia de Deus não têm limites.
O conceito de "País de Aslan" como um paraíso eterno pode ser interpretado como um reflexo do céu na tradição cristã, onde os justos desfrutam da comunhão com Deus. Além disso, a descrição da Nova Nárnia resplandecendo com cores vivas e uma beleza incomparável evoca imagens bíblicas de um paraíso restaurado.
"E, para nós, este é o fim de todas as histórias, e podemos dizer muito sinceramente que todos viveram felizes para sempre. Mas, para eles, foi somente o começo da história real. Toda a sua vida neste mundo e todas as suas aventuras em Nárnia haviam sido apenas a capa e a página de rosto; agora, finalmente, estavam iniciando o Primeiro Capítulo da Grande História que ninguém na terra leu, a História que prossegue para sempre. E, nessa História, cada capítulo é melhor que o anterior."