Michael 30/12/2010Crescemos achando que vamos sempre ter tempo para fazer tudo que planejamos: o primeiro beijo, perder a virgindade, ir para a faculdade, casar e etc. Crescemos achando que sempre teremos tempo para desfrutar ao lado daqueles que amamos. E crescemos ignorando o fato que, fatalmente, estamos envelhecendo e a cada dia estamos mais perto da morte.
Susie Salmon descobre que não é bem assim. Susie descobre que, apesar de ter experimentado o primeiro beijo, ela não experimentará o segundo. Ela descobre que não irá para a faculdade (aliás, nem irá concluir o colegial). Ela descobre que não irá desfrutar de todo tempo do mundo com a família que ama, e descobre, acima de tudo, que não irá envelhecer como todos acham. Ela descobre que ficará parada no tempo, como uma menina de 14 anos. E ela descobre tudo isso após ser estuprada e brutalmente assassinada por seu vizinho.
Após o horrendo acontecimento, Susie passa a ser, a partir do céu, espectadora da vida que deixara para trás: a família atormentada, os amigos chocados, um potencial primeiro amor, o assassino tentando encobrir todas as pistas.
A autora usa uma linguagem única, na qual realmente temos a impressão que é uma menina de quatorze anos que nos conta a história: a narrativa, embora muito bem elaborada, não possui uma forma linear. Conforme vai se lembrando de fatos, Susie vai nos contando, levando nos inesperadamente do presente para o passado, mas sempre amarrando os fatos de forma eficaz e construindo uma narrativa muito atraente.
O personagem mais interessante da história, além da própria Susie, é seu pai Jack. Ele é o mais afetado pela morte da garota, e passa a zelar pelos filhos que lhe resta com grande dedicação enquanto se perde na memória da filha assassinada.
Cheia de beleza e passagens realmente emocionantes (cada encontro que Susie tem em seu céu é um convite à emoção), a autora Alice Sebold constrói uma fábula sobre morte, vida, amor, tristeza e aceitação. Vale cada segundo!