Lerivaldo Cunha 16/12/2017Estilo de Camilo Castelo Branco e a obra "Amor de Perdição"Camilo Castelo Branco tem um estilo tipicamente pertencente ao ultrarromantismo, fazendo uso em suas novelas camilianas de um romantismo exacerbado que vai além da racionalidade dos personagens. Tem sempre a temática do amor passional, em que duas pessoas ou três (exemplo em amor e perdição) vivenciam o sentimento de um amor proibido e inalcançado. É um amor incontrolável, fazendo com que as personagens tomem decisões de forma sentimental e irracional, sem reflexão, a fim de alcançar seus desejos. Porém, as condições sociais ou conflitos existentes entre as famílias dos envolvidos mostram-se como obstáculos entre esse amor, principiando punições sociais. Camilo ainda utiliza em seu estilo literário uma critica ao estilo de vida burguês e as condições dessa classe, ao mesmo tempo em que em suas obras os "heróis" manifestam sua contrariedade ao costume burguês, esses antiburgueses são de certa forma dependentes dos privilégios da burguesia (como o caso de Simão, este filho de um corregedor, teve privilégios no seu julgamento pelo assassinado do primo de Tereza). O autor ainda faz uso em suas obras da metalinguística, ao inserir no fluxo de sua prosa, teorias e criticas do seu ponto de vista no decorrer da narrativa, a fim de prender a atenção do leitor.
Tais características podem ser evidenciadas em uma das principais obras de Camilo Castelo Branco (essa que escrevo esta resenha). Esta obra narra à estória de dois jovens (Tereza e Simão) que vivem uma intensa paixão não aceita por suas famílias que são rivais entre si. O pai de Tereza, ao se deparar com a situação que muito lhe desagrada, promete a mão da sua filha ao sobrinho. A jovem ao tomar conhecimento do casamento arranjado contraria as ordens do pai e se recusa a casar. Não havendo outra solução e como punição pela insubordinação, ela é levada ao convento, de onde continua a trocar cartas com Simão. Este se encontra ferido, devido uma briga com o primo de Tereza, na estalagem do ferrador João da Cruz. João e sua filha Mariana são importantes personagens, que ajudam Simão em sua busca pela vitória amorosa. A jovem Mariana é símbolo de um amor puro, que nutri por Simão e que tudo oferece sem esperar nada em troca, constituído assim um triângulo amoroso no drama. Como consequência desse amor passional, Simão mata o primo de Tereza, acreditando que estaria a livrando de um malfeitor e de livre e espontânea vontade entregasse a justiça e confessa o crime. A jovem Tereza é levada para outro convento, e a jovem Mariana diante de todo o ocorrido com Simão se entrega a um estado de loucura, voltando a si alguns meses depois. Preso, Simão não teme uma condenação na forca. Ambos, Tereza e Simão, acreditam que se não existe mais esperança para viverem seu amor no mundo terreno poderão vivê-lo no mundo espiritual, com a graça de Deus (podemos identificar uma religiosidade presente em obras Camilianas). Essa obra muito se assemelha a "Romeu e Julieta", seja pelo amor que entra em conflito com suas famílias; seja por seu desfecho trágico (característica dos romances de Camilo). Entretanto, diferem pela forma como se dá essa tragédia: em "Amor e perdição" os apaixonados morrem de formas diferentes, Tereza morre abatida por uma intensa fraqueza no convento e Simão morre acometido por uma febre no barco que o levava a cumprir sua pena de exílio na Índia; além dos jovens nunca terem tido contado físico entre si e a presença do triângulo amoroso. E a jovem Mariana? Esta acompanhando Simão no seu triste exílio, ao jogarem o corpo de Simão ao mar se joga ao fundo do oceano abraçada no cadáver de seu amado, destinada a segui-lo ate a morte.