Alexandre 23/08/2021
Fundamental para todo brasileiro
Se alguém quer ter alguma noção do nosso desafio na área de segurança pública, que já era imenso antes da chegada de Bolsonaro ao poder, mas agora é maior ainda, tem que ler A República das Milícias.
É um trabalho de fôlego que consegue nos mostrar o embrião do crime organizado até os dias de hoje - e isso envolve desde os primeiros "esquadrões da morte", formados no governo Juscelino Kubitschek, até as milícias que hoje dominam vasto território do estado do Rio de Janeiro, passando pela formação e desenvolvimento de organizações criminosas como PCC, Comando Vermelho, Amigos dos Amigos, Terceiro Comando, Terceiro Comando Puro e toda a contravenção do jogo do bicho e de máquinas caça-níqueis.
As pesquisas de Bruno Paes Manso e do Núcleo de Estudos da Violência da USP, onde trabalha, são primordiais para nos dar um norte sobre o perigo que corremos.
Com este livro, passei a entender melhor termos como "arrego", "matuto", "minerar", "embuchar"... Aprendi também a "ética" que preside o pensamento desses "justiceiros" que resolveram "sair do armário" há poucos anos. Compreendi a ligação de elementos oriundos de treinamentos militares (polícias ou Forças Armadas) nessas organizações todas. Pude passar a admirar nomes que tentaram e tentam mudar a lógica perversa desse sistema, como Marcelo Freixo e Luiz Eduardo Soares.
Conforme a leitura avança, vamos nos dando conta de quão na beira do precipício estamos. É preciso mudar a direção do leme deste país. Há muito a se fazer para brecar a multiplicação do modelo miliciano que só ganhou força com medidas do atual presidente, como a facilitação de compra de armas e munições, acompanhada de normas que impedem o devido rastreio dessas munições durante investigações criminais.
É questão de civismo falar desse livro e incentivar outras pessoas a ler a obra. Nossa visão sobre os governos e as polícias se alarga muito com essa leitura.
Nota 1000.