spoiler visualizarVitor_Castor 27/01/2023
É mais fácil pensar o fim do mundo que o fim do capitalism
O objetivo desse livro é analisar como o capitalismo constrói uma determinada representação do real e ao mesmo tempo estabelece os limites do real. No entanto, o percurso analítico não é óbvio, não se trata de uma mera arrumação requentada do cardápio conceitual marxista ocidental (alienação, ideologia, fetiche...), ou uma psicologização barata das relações de poder e dominação.
mark fisher é (era) um autor inovador, raro nos tempos contemporâneos, suas categorias de análises podem ser entendidas como caminhos para a explicitação do modo particular de construção da realidade no contexto - capitalismo tardio, financeirização e neoliberalismo - através de um sistema de equivalência geral que consome o passado (como farsa ou tragédia) e rebaixa o futuro, de modo a reinstalar ad hoc a realidade... Em outras palavras, o que sustenta o capitalismo tardio não são suas capacidades de projetar-se como melhor organização da vida socioeconômica, mas a afirmação de que por pior que seja é melhor que a alternativa, por isso, sua defesa é por vezes “pós-política” ou “pré-política”, a fim de que todos partam em sua defesa, onde todos participam, mas não há ninguém capaz de assumir responsabilidade.
É possível depreender que o movimento revolucionário perdeu a capacidade de constituir-se como força social na realidade, engendrar uma prática particular, qualquer alternativa passa a surgir apenas como um estilo estético, e rapidamente se converte em novas mercadorias, inclusive a “autenticidade provou-se altamente vendável”, cabe ao sujeito (consumidor “consciente” ou individuo caridoso) comprar os produtos certos. Todo esse cerco protege o capitalismo (neoliberalismo) contra aqueles que sonham demais, cujo realismo só poderá ser confrontado se exposto sua inconsistência, a insustentabilidade do realismo ostensivo em direção ao mal-estar específico desse século, caso contrário, a crítica logo se parecerá com um utopismo ingênuo, podemos dizer que não existe nada mais perigoso ao capitalismo que o real (capitalismo realmente existente).
Conceitos importantes:
* Privatização do estresse: Em meio à despolitização da questão social, o sujeito isolado é apresentado a um diagnóstico bioquímico cujo sofrimento é direcionado à individualização exacerbada, além de expandir o processo de medicalização (“podemos de curar com nossos inibidores seletivos de recaptação de serotonina”).
* Burocracia empresarial: O neoliberalismo apensar de apresentar-se como antiburocráticos e antiestatal, denunciarem a impiedosa burocracia verticalizada, ironicamente na prática, proliferou novas regulações burocráticas, as burocracias passam a ser definidas por administradores de alto escalão das empresas, seja reformulando (gerenciando) as relações de trabalho, seja capitaneando (gerenciando) parte do Estado.
* Impotência reflexiva: O sujeito incapaz de imaginar alternativas coletivas, impotente e isolado, rebaixa seu horizonte de expectativas, a noção deflacionária de um depressivo se encaixa como estratégia de cancelamento do futuro e expressão pós-ideológica da realidade (x real). Sabe-se que as coisas vão mal, pior que isso, “sabem que não podem fazer nada a respeito”.
* Ontologia Empresarial: A forma empresa converte-se em um jeito de ser, pensar e agir, capaz inclusive de explicar próprio humano e suas relações, que precisam ser contabilizadas tal como uma empresa.