spoiler visualizarIsis.Angeli 21/05/2021
Bem escrito, mas sem objetivo
Terceira vez que faço uma resenha desse livro e o aplicativo apaga, mas vamos lá hahaha
Aglaia, a protagonista, é uma criança que sofre com transtornos psiquiátricos variados (o livro não nos dá um diagnóstico) que vê seu mundo desmoronar após a chegada de uma meia-irmã em sua vida.
Os prós: O livro é bem escrito, de fácil leitura, bastante lírico, possui trechos muito bonitos de reflexão. Trata de um tema que gosto bastante, que é esse processo de romper com a primeira infância, e que Freud chamou de "matar o pai" (não no sentido literal, rs). Esse tema também foi muito trabalhado no livro Demian, de Herman Hesse, o meu livro favorito e que também foi a inspiração da autora para o melhor amigo - e primeira paixão - de Aglaia.
Os contras: Além do eruditismo cansativo, o livro, por ser narrado em primeira pessoa, faz com que a visão que temos de Aglaia seja a visão que ela tem de si mesma: repulsiva, egoísta, socialmente inapta, violenta. O tiro pela culatra foi que não senti empatia pela personagem em nenhum momento. O livro contém apenas mais do mesmo, aquilo que vem sendo usado exaustivamente ao longo dos tempos para definir os pacientes psiquiátricos: são perigosos, mentem, alucinam, não querem ser ajudados, não se esforçam para serem ajudados, utilizando transtornos emocionais para justificar a maldade infundada (nesse caso inclusive contra animais). Esse problema que vi no livro poderia ter sido facilmente remediado pelo fato de que ele é contado por uma Aglaia já adulta, que (acredita-se) poderia ter aprendido algo ao longo da vida com tudo o que passou. Infelizmente não é o que ocorre, a Aglaia adulta e a criança são a mesma coisa. A personagem parou no tempo. não desenvolveu, não aprendeu.
Eu, que desde a infância tenho transtornos semelhantes a alguns que Aglaia também possui, me senti desconfortável e nem um pouco representada. Sinto que a nossa luta verdadeira, a de tentar reestabelecer o nosso bem estar mental e emocional não foi valorizada.
E por fim (literalmente) a pior parte: o final. Acredito que a intenção seria mostrar que o pássaro se regozija de verdade apenas uma única vez no livro, quando a violência foi contra a própria Aglaia. Mas mesmo assim cheguei ao fim com a sensação de que faltou um objetivo, um sentido para tudo o que foi contado. A razão para ser contado, ou um ponto de conexão entre as Aglaias do passado e do presente, uma lição, um aprendizado ou moral, mas infelizmente não encontrei nada mesmo. Apenas crueldade e violência contado em palavras bonitas mas sem um objetivo real.