Sofia.Oliveira 21/01/2022
Resenha: mapa de sal e estrelas
?Histórias são poderosas, mas se você guardar demais no coração as palavras dos outros, elas afogarão as suas próprias.? ??
Leitura em parceria com a editora dublinense ?
Esse livro existe pra tirar a gente da nossa zona de conforto, do nosso mundo cor de rosa, e jogar na nossa cara a realidade nua e crua de milhares de pessoas não só da Síria mas do oriente médio como um todo.
O livro aborda duas histórias: a primeira é a história de Nur e sua família que, após a morte do pai, se mudam dos Estados Unidos de volta para a Síria, seu país de origem. Após um tempo no país, a situação local piora e uma bomba explode próximo de onde elas moram, resultando na destruição total de sua casa. Após esse acontecimento, vamos seguindo essa família pelos desafios da busca por segurança e qualidade de vida como refugiadas.
A segunda história retrata a história contada pelo pai de Nur a ela: a história de Rawiya. Nessa, encontramos um refúgio do clima pesado da história principal e entramos num mundo mais fantasioso sobre uma menina que quer aprender cartografia, conhecer novas terras e dar uma melhor qualidade de vida pra sua mãe.
O autor não deixa a desejar nas partes incômodas. Como eu disse, a história mostra de forma nua e crua o que acontece com os refugiados sírios - então vemos o nível absurdo de sofrimento pelos quais eles passam apenas para ter algo que é de direito de todos: a vida.
As duas histórias possuem diversas similaridades, em principal a ordem da viagem feita pelos personagens, suas lutas contra as adversidades, suas forças, suas esperanças e seus crescimentos pessoais.
O livro possui diversas passagens bem bonitas e reflexivas, o que sempre me ganha bastante. A edição da TAG e a da dublinense estão impecáveis, a letra é de um azul escuro e tem mapas bem bonitos com poemas bem tocantes (que fazem total sentido no final); e esse foi um dos poucos livros que não achei nenhum erro de digitação.
A personagem principal (Nur) é sinestésica, relacionando sons/letras/cheiros com cores, e é algo que o autor retrata tão bem, fazendo com que seja muito agradável acompanhar essa nova forma de sentir.
Os personagens secundários das duas histórias são bem desenvolvidos e dou um foco pra Zahra, a segunda irmã mais velha da Nur, que cresceu e teve um desenvolvimento bem bonito. E a Huda, a irmã mais velha, que mostra como a fé pode nos levar longe e nos ajudar a entender e ultrapassar os obstáculos da vida.
No geral, este livro trás três pontos muito importantes e necessários de terem destaque:
1 - ele trás, sob o ponto de vista de uma criança (a Nur), o tamanho da destruição, do perigo e da imprevisibilidade de uma guerra, mostrando que ninguém está seguro. Também deixa explícito a injustiça e a brutalidade dos governos com os cidadãos do próprio país ou para com seus vizinhos exilados - um exemplo disso é quando a casa é totalmente destruída pela bomba e Nur ingenuamente acredita que o governo iria reconstruí-la, algo que claramente nunca aconteceu. Também é retratado quando nenhum governo dá auxílio às famílias afetadas pela destruição de uma guerra que não é delas.
2 - trata a figura feminina com destaque, transbordando força nas personagens.
3- há uma marcação histórica que contribui para nossa imersão na cultura Síria (mas também do oriente médio e norte da África) e também para nossa conscientização do que ainda, mesmo após 10 anos, ocorre na região.
Tirei 0,5 estrelas apenas pq achei que em alguns momentos o pensamento e a forma de falar pra personagem Nur não condizia com uma criança de 12/13 anos. E também porque os capítulos são enormes.
Recomendo demais essa leitura, principalmente pra quem deseja ler algo fora da zona de conforto e pra quem deseja conhecer através da leitura uma cultura pouco retratada em livros e negligenciada no mundo.