Alessandro232 15/12/2020
Um mapa de histórias comoventes e emocionantes
TAG INÉDITOS
"O mapa de sal e estrelas" foi uma grata surpresa neste final de ano. O livro tem duas linhas narrativas em espaços temporais diferentes: Uma no tempo atual, na qual a protagonista Nur, uma menina de doze anos narra os dramáticos eventos envolvendo a eclosão dos conflitos armados na Síria. Por meio sempre do ponto de vista dessa personagens acompanhamos os esforças dela, da mãe e das irmãs para deixar o território sírio e buscar refúgio em outro lugar. Paralelamente a isso, temos outra narrativa, em terceira pessoa, protagonizada por Rawiya, uma garota que para fugir da pobreza decide ser cartógrafa e para isso se faz passar por uma garoto e inicia uma jornada ara mapear as regiões do Oriente. Fiquei muito impressionado com a escrita de Zeyn Joukhadar. "O mapa de sal e estrelas" é uma obra muito bem escrita, com trama envolvente e também muito comovente e emocionante em algumas passagens.
Gostei muito do contraste entre o Oriente antigo, cheio de maravilhas, na arquitetura, e, principalmente na área do conhecimento humano, com destaque para a cartografia, com o Oriente atual devastado por conflitos internos e disputas políticas.
No enredo do livro também é bem combinada a mistura entre realidade, que é mostrada de forma "dura", com aspectos bastante realistas com a fantasia, na segunda história, na qual encontramos elementos que remetem aos contos das "Mil e Uma Noites" e também faz referência a pessoas reais, tais como o cartógrafo Al-idris e o rei Rogério.
Além disso, encontramos um espelhamento entre as duas narrativas em várias situações envolvendo as duas protagonistas que nas situações de perigo revelam ser determinadas e corajosas. No livro, todas as personagens femininas são fortes, com destaque para a mãe de Nur, também cartógrafa e disposta a sacrificar sua própria vida para defender as filhas.
Dessa forma, em seu enredo destaca-se a dramática situação dos sírios que são obrigados a abandonar o país que, infelizmente, foi totalmente devastada por disputas políticas internas e pela ambição de um ditador desumano. Neste aspecto, o romance é muito comovente em muitas passagens e os leitores mais sensíveis dificilmente não vão conseguir conter a emoção diante de alguns eventos bastante dramáticos. Por outro lado, as aventuras de Rawiya são cheia de lances surpreendentes e tem um aspecto maravilhoso, que se faz presente a partir da aparição de criaturas fantásticas. É essa mistura equilibrada entre realidade e fantasia que torna o livro tão interessante e envolvente.
Também é importante ressaltar que esse romance é resultado de um grande trabalho de pesquisa, principalmente sobre a cartografia do Antigo Oriente e isso se reflete em sua escrita que é bastante verossímil quando explora eventos históricos e localizações geográficas.
Também trata-se de um livro necessário para que possamos se entender melhor a problemática dos refugiados, um assunto relevante que precisa ser discuto e afeta profundamente a vida de milhões de pessoas em vários países do mundo. "O mapa.. é um livro sobre o valor da amizade, às tradições familiares, e, também sobre a identidade cultural que é um dos seus principais temas.
Para mim é um dos melhores livros da TAG INÉDITOS e um dos que mais gostei de ler este ano. Literalmente, "viajei" pelo antigo Oriente e também vivencie de perto dos horrores da Síria. São poucos os livros que nos faz ficar na "pele" dos personagens e este me proporcionou esta experiência ás vezes fascinante e em outros trechos muito assustadora.
Vale muito pena sua leitura, altamente recomendada para aqueles que se interessam em conhecer diferentes culturas e também sobre a situação dos refugiados sírios - aprendi muito sobre esses dois assuntos.
Sobre o projeto gráfico do livro: ele está muito bonito e combina com a narrativa do livro. Tanto a capa como a case traz motivos que remetem ao romance. A revistinha da TAG também traz informações que ampliam o entendimento de eventos históricos descritos na obra. Para mim "O mapa..", assim como o mimo do mês- o livro de contos de Conan Doyle fecharam o ano com "chave de ouro".