Luan 07/06/2019
Sem medo de dizer: temos o melhor livro de John Boyne
Um livro bom, ruim ou mediano é uma classificação que varia de leitor para leitor. O que agrada um, não agrada o outro. É natural. E fica a cargo de cada leitor analisar o que considerou bom ou ruim dentro daquela obra. Normalmente, algumas coisas funcionam, outras não, gerando um meio termo. No caso de O palácio de inverno, de John Boyne, é daqueles raros livros que, para mim, praticamente tudo funcionou e, por isso, se tornou um dos meus favoritos da vida.
A obra conta a história de Geórgui Jachmenev, um rapaz que, aos dezesseis anos, impediu um atentado contra a vida do grão-duque Nicolau Nicolaievitch, irmão do czar Nicolau II, que, agradecido, nomeou Geórgui o guarda-costas oficial de seu filho Alexei, destinado a ser o próximo czar. A vida do rapaz mudou drasticamente. E nas várias páginas do livro o leitor vai conhecer a história dele, da família dele, da família do czar e o que o futuro reservou a este personagem tão simpático e ao grande amor da sua vida.
Narrado em dois tempos, o livro vai ao passado e ao futuro de um jeito diferente. Os capítulos são intercalados entre a narração da história do protagonista ainda jovem e já velho. Nos blocos da juventude, nos deparamos com tudo que cerca a mente de um rapaz dessa idade e de como é enfrentar uma mudança tão drástica na vida. Já nos capítulos em que está idoso, há um retorno regressivo no tempo, isto é, a cada capítulo, voltamos vários anos até que, no fim as duas narrativas – jovem e velha – se cruzam.
O livro não é um suspense ou mistério. Mas há várias coisas postas que carecem de explicações e fazem o leitor criar diversas teorias. Este é um dos combustíveis para quem lê querer devorar as páginas. É interessante e convidativo para o leitor descobrir o que levou o protagonista a chegar naquele ponto em que ele narra já idoso. Saber quem são determinados personagens. Que fatos são aqueles muitas vezes obscuros na narrativa. Este é um dos grandes acertos.
Mas esta é uma obra não apenas narrando a jornada do protagonista. É um livro sobre diversas reflexões. É, principalmente, sobre mudanças e como, muitas vezes, somos nós mesmos que decidimos o nosso futuro. E como, às vezes, deixar o passado, mas nunca de forma ingrata, é preciso para que posamos andar rumo ao futuro. E mais do que isso, é refletir sobre como aproveitar a vida e as oportunidades que temos ao longo da nossa trajetória - ele me deixou muito pensativo em sobre como envelhecer e como aproveitar a juventude.
Misturando ficção com fatos históricos, o livro é certeiro em ensinar sobre a história da Rússia mesclando com personagens interessantes. E este é um dos quesitos que mais se destacam no livro. John Boyne poucas vezes criou personagens tão bons. Veja, não estou dizendo que nos demais livros, eles não são boas criações. Mas, neste ele elevou o nível. Vilão ou não vilão, importante ou menos importante, todos os personagens são carismáticos de alguma forma e conseguem atrair a atenção do leitor.
O desenvolvimento bem-feito, a história bem pensada e a cadência com que o autor narra essa aventura casaram perfeitamente. Não há perda de ritmo, com momentos lentos ou enfadonhos. Hã sempre algo acontecendo que chama a atenção de quem lê. Soma-se a isso a escrita de Boyne, que está pontual. É, ao lado de O pacifista, o livro com a melhor escrita do autor – entre os que eu li, é claro. Há um ou outro problema, muito pouco perto da grandiosidade da obra. Achei que em alguns momentos ele poderia ter explorado mais algumas situações chave, principalmente na parte final.
São infinitas coisas que eu tenho para falar sobre O palácio de inverno. Ele me conquistou de cara e o encanto só foi crescendo, sendo corado com um fim muito bonito, coerente e com respostas que agradaram. Teria muitas coisas para falar ainda, mas ao mesmo, não sei como expor essas palavras. De todo jeito, o que deixo é a certeza de que este não é só o melhor livro de Boyne, como também, de mansinho, foi se transformando um dos melhores da vida. Obrigado por essa história tão singular e poderosa, John Boyce.