Emerson Dylan 17/01/2024
Impressiona a capacidade de Geovani Martins transpor para o texto escrito a tradição oral. Na maior parte dos autores que tentam fazer essa transliteração, o resultado é fraco, soa artificial, quando não constrangedor mesmo. Aqui, não. O texto de Martins é natural, fluido, é impossível não ler com o sotaque carioca impregnando na mente. Gostei muito dos contos, alguns mais profundos, outros meramente interessantes, mas sempre com o pano de fundo a favela carioca, suas cores, suas gentes, seus sons e suas fumaças. Alguns temas aparecem repetidos à exaustão, mas não diminui a força do livro, afinal, Martins escreve sobre o cotidiano e o cotidiano é feito de repetições; seja de marola, seja de violência, seja de crença, seja de tesão. Cotidiano não é necessariamente realismo. Apesar da escrita do autor ser tão bem estruturada, fazendo com que o leitor creia naquilo descrito como se fosse documental, diminuir a obra a um realismo é diminuir a capacidade de criação de Martins, que além de ser um ótimo narrador, é extremamente criativo. Depois de conhecer O Sol na Cabeça, é impossível não ficar ansioso para ler Via Ápia.
P.s. primeiro livro que leio num kindle. 2024 d. C.