Juliete 31/01/2022
Nota da autora
"Até setembro de 2015, nunca pensei realmente no que as palavras ?crise dos refugiados?significavam. Mesmo que isso fosse algo que estivesse sendo falado nas notícias todos os dias, parecia uma crise invisível ?algo que estava acontecendo em países bem, bem longe e para pessoas que eu não sabia praticamente nada a respeito. Mas, às 11h da manhã do dia 02 de setembro de 2015, tudo isso mudou. Não apenas para mim, mas, como descobri mais tarde, para milhares de pessoas ao redor do mundo. Porque foi naquela manhã que praticamente todos os jornais do mundo divulgaram a história de Alan Kurdi, um jovem garoto que morreu aos três anos tentando atravessar o Mar Egeu com a família dele. Ler aquela história me encheu com uma série de perguntas sem fim. Como isso foi permitido de acontecer? Por que não fiz nada antes? E o que eu poderia fazer agora? Porque sabia que tinha que fazer algo ?não importava quão pequena aquela coisa pudesse ser. Essas perguntas me fizeram agir. Fui atrás de agências que estavam trabalhando para salvar as vidas de refugiados e levantei o tanto de doações que eu podia para entregar a eles. Depois daquilo, decidi visitar os campos de refugiados mais próximos que podia encontrar e entregar ajuda diretamente. Comecei a me aventurar pelos campos em Calais sempre que eu podia. A força silenciosa do Ahmet é uma mostra das várias crianças que tive a honra de conhecer nas florestas, tendas destruídas, planícies lamacentas, cabanas e abrigos improvisados em Calais e Dunkirk, cidades da França. Mesmo depois de ter sobrevivido a horrores e crueldades, a capacidade de cada uma das crianças de ser atrevida, de rir, de encontrar alegria ou passar isso para os outros é um presente que permanecerei sempre maravilhada ao receber. Dentre os muitos rostos daquelas lindas crianças, decidi dedicar este livro para Raehan, ?o bebê de Calais?: um bebê de apenas algumas semanas de vida, que a mãe sobreviveu à destruição da vila onde morava e viajou milhares de quilômetros enquanto estava grávida. Depois da demolição do acampamento oficial de Calais, o bebê Raehan e a família dele desapareceram e não consigo parar de torcer todos os dias para que eles tenham chegado sãos e salvos à família que têm no Reino Unido. Até então, o legado de Alan Kurdi e do bebê Raehan seguem pelo trabalho de centenas de corações gentis que ajudam os refugiados não apenas a sobreviver, mas a encontrar segurança e um lar onde todos possam chamar de seu novamente."