Paloma 16/06/2020Potente e revelador.No mesmo mês em que o mundo volta seus olhares a Minnesota, após o covarde assassinato de George Floyd e, no Brasil, se reacendem manifestações antirracistas por João Pedro, por Miguel, Ágatha, Marielle e tantos outros, a TAG Experiências Literárias brinda seus leitores com a primeira obra de Alice Walker, até então inédita no Brasil, A Terceira Vida de Grange Copeland, indicada por Jarid Arraes.
S i n c r o n i c i d a d e. Não há outra palavra.
A obra acompanha 3 gerações da família Copeland: Grange e Margaret, seu filho Brownfield e a esposa Mem e, por fim, a filha deles, Ruth. Em determinados momentos da obra o leitor pode ser perguntar porque o patriarca dá título ao livro, já que parece ser Brownfield o grande protagonista. Embora seja narrado em terceira pessoa, é com foco nele que a maior parte da narrativa se desenrola. Depois, porém, tudo faz sentido.
É muito difícil falar da história sem trazer spoiler, mas, sem correr esse risco, é possível dizer que acompanhamos inicialmente a vida de Grange, Margaret e do pequeno Brownfield nos campos de algodão da Geórgia da primeira metade do século passado. Ali, a família sobrevive num sistema de parceria rural chamada sharecropping, que de parceria, na verdade, não tem nada. Aproveitando-se da dependência econômica e da pouca instrução dos arrendatários, os proprietários rurais eram os grandes beneficiados por esse sistema.
Sendo a questão racial ainda mais forte no sul dos Estados Unidos, muitos trabalhadores negros sonhavam em “ir para no norte”, em busca de uma vida com mais dignidade. Mas, como nos mostra a obra de Walker, a hostilidade ao povo negro não é exclusividade dos estados do sul.
A narrativa é carregada de tensão do início ao fim. Os efeitos deletérios do contexto de opressão em que estão todos inseridos se mostram de maneira nua, crua e cruel. Racismo, machismo, absorção do mal, a dificuldade de romper ciclos de violência são questões que acompanham o leitor da primeira à última linha. Mas, quando chegamos à terceira vida de Grange, atingimos o limiar da esperança, pelo fio condutor do amor.
Uma obra potente e reveladora.
PS: não deixem de ler o posfácio da autora.