Ana Luiza 19/05/2021
Esperava algo diferente
A HISTÓRIA
Grant Morgan diria que as histórias sobre ele são exageradas. Mas ele é de fato o investigador mais famoso, misterioso e bonito da agência em Bow Street. Além disso, Grant é viciado em trabalho e não recusa quando o chamam para investigar uma vítima de afogamento retirada do Tâmisa.
Contudo, a vítima em questão está ainda muito viva e é ninguém menos que Vivien Duvall. Ela também é uma lenda na cidade. A cortesã mais bela e requisitada de Londres, a mulher é a única que já rejeitou, muito publicamente, os avanços românticos de Grant.
Só que a Vivien que Grant encontra no rio não é nada como a cortesã gananciosa que ele conheceu. Machucada e sem qualquer lembrança de quem é, como foi parar no rio ou quem tentou matá-la, essa Vivien desperta algo em Grant. Ele a esconde na própria casa, com a desculpa que ela possa se recuperar em segurança enquanto ele investiga sua tentativa de assassinato.
Contudo, por mais que as lembranças não venham, a personalidade doce e inteligente de Vivien cativa Grant. E ela é muito grata ao seu salvador, só que não é tão dócil assim. Vivien não consegue aceitar que era a mulher cínica e interesseira que todos falam. Sem falar que não parece ser tão experiente quanto uma cortesã deveria ser.
Assim, Vivien decide conduzir sua própria investigação, em busca de quem é de verdade. Grant também precisa repensar seus conceitos conforme começa a se apaixonar pela mulher a qual jurou vingança.
(...)
VALE A PENA LER?
Eu estava muito animada para ler Cortesã Por Uma Noite e ter uma visão diferente, menos glamourosa, mas ainda assim interessante da Inglaterra Regencial. Raramente em romances de época temos uma mocinha que não é virginal e tímida e este livro prometia bastante com uma protagonista com a profissão mais antiga do mundo.
Contudo, minhas expectativas foram logo frustradas. A mocinha já começa a história sem memória e mostrando sinais de que está longe de ser a cortesã segura de si e ousada que a sinopse nos faz esperar. Lisa Kleypas me decepcionou bastante ao pegar uma temática tão interessante e desperdiça-la com uma visão moralista do sexo e da profissão da protagonista.
Obviamente, como hoje, o mundo das prostitutas e cortesãs era violento, e provavelmente poucas de fato escolheram a profissão. Contudo, diferente das interesseiras cínicas que a autora descreve, as cortesãs eram também mulheres independentes em uma época de muita opressão. Claro que seus ganhos, sua vida em geral, dependiam dos homens. Mas, diferente das mulheres nobres, as cortesãs ganhavam seu próprio dinheiro e possuíam propriedades.
Da mesma forma, diferente de outras mulheres que ativamente trabalhavam, como camareiras, costureiras, etc., as cortesãs tinham mais liberdade para escolher para quem e por quanto tempo trabalhavam. Cortesãs eram figuras influentes e que tinham poder não só em seus relacionamentos, mas também nas artes e até mesmo na política.
Contudo, em vez de explorar essa dualidade entre a liberdade e a opressão, o glamour e a violência da vida de uma cortesã, a autora decidiu condená-las como mulheres horríveis ou pobres coitadas apenas. Tanto que a “solução” da autora para o fato de Vivien não se lembrar ou se sentir como uma cortesã foi bastante óbvia e, honestamente, uma saída preguiçosa e que tornou um livro com tanto potencial como qualquer outro romance de época.
Cortesã Por Uma Noite não é uma leitura ruim. É interessante acompanhar o mundo de investigações de Grant, mas não gostei do personagem. Sua vingança contra Vivien é mesquinha e sua visão desmoralizante sobre ela e sua profissão se baseiam no fato de que ele foi rejeitado. Me irritou bastante que toda a motivação do personagem era simplesmente seu ego ferido.
Por causa do mocinho, o romance dos personagens não me cativou muito. Mesmo sendo uma narrativa rápida, intrigante e sensual, o livro me decepcionou bastante. Ainda quero ler os próximos volumes, mas agora não espero mais que sejam obras únicas, apesar do cenário e contexto (o mundo policial de Londres) serem interessantes.
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