Camila 08/05/2022
Distopia econômica e civilizatória
Comecei esse livro após fortes indicações com uma expectativa que foi frustrada logo nas primeiras 50 páginas. Me obriguei a continuar, quase abandonei várias vezes até aí. Mas depois entendi. E me surpreendi.
Não acho que a resenha oficial faça jus a essa obra. O viés trazido sobre Florence faz dela, na resenha oficial, a personagem principal, quando na verdade o grande personagem é seu filho, Willing.
É um livro difícil de ler, não é o tipo de leitura que vc consiga desbravar 100 páginas num dia. Os temas são complexos do ponto de vista econômico, social e psíquico.
Depois de superar a marca das 50 páginas e começar a compreender a árvore genealógica dos Mandible, é possível empatizar com algumas figuras. Circunstancialmente reunidos numa Nova York apocalíptica, onde os EUA deixam de ser a potencial mundial, pedem moratória diante da perda de valor do dólar frente a uma nova moeda internacional que surge, o bancor, a família Mandible passa a enfrentar os desafios civilizatórios para adquirirem bens básicos de consumo (o drama da falta de papel higiênico é triste e hilário ao mesmo tempo) quando a moeda não vale nada diante da inflação galopante.
A difícil convivência dos membros de 4 gerações dos Mandible ressalta idiossincrasias, superficialidades e banalidades dos seres humanos frente ao desafio da sobrevivência. Curiosamente, o que mantém esta nova sociedade americana minimamente funcional é a Previdência Social que, a partir da impressão de mais e mais papel moeda (hello, hiperinflação), segue pagando os benefícios sociais. Entre o custo dos elevadíssimos encargos tributários que mantém esta mínima rede de segurança e o novo Estados Unidos de Nevada (o estado livre) sem qualquer proteção social, com tributação fixa e reduzida, o leitor se depara com o tipo de sobrevivência que optaria nesta distopia. Recomendo demais a leitura se vc está preparado para refletir econômica e socialmente sobre um possível futuro.