Vitor 28/04/2024
A reação raivosa de uma mulher.
É compreensível que haja futuros questionamentos acerca do meu ponto de vista sobre este livro, pois sou um homem cis e esta obra é extremamente feminina. Mas sinto o impulso de dissertar sobre ele.
Lisa Taddeo, através de uma escrita difícil de ser digerida, porém extremamente fluida, provoca no leitor sentimentos controversos. Em alguns momentos, como ouvinte do que a personagem Joan tem para expor, senti-me nauseado pela forma como ela escancara a vida de uma mulher em uma sociedade patriarcal.
Todas as atitudes questionáveis da personagem são fruto de suas experiências de vida. Devemos normalizar a reação da vítima? Devemos compadecer-nos? Para mim, devemos apenas escutar o que ela tem a exteriorizar, sem assumir o papel de quem julga.
O perdão nessa ficção não existe, justamente devido à sua aproximação com a realidade feminina. Refleti por semanas sobre o conteúdo de uma entrevista de Carla Madeira, na qual ela discursa a favor do perdão. Por um tempo, quis acreditar nas palavras dela por causa da minha admiração por sua obra. Ela não foi capaz de me convencer de que certas situações comportam o perdão. Em alguns casos, é favorecer demais uma sociedade decadente e deplorável. Contradigo-me, assumo o papel de julgador.
Em uma conversa com uma senhora sobre literatura, ela disse que para o feminicídio e o infanticídio não existe a possibilidade de redenção para o causador dessas atrocidades, mesmo quando se trata de ficção. Concordo. Mas isso engloba o estupro? A pedofilia? O abuso psicológico? O abandono? (temas sensíveis presentes no romance).
Em "Animal", Lisa Taddeo invoca, através da personagem principal, questões reais. Como escritora, ela utilizou o poder da literatura para ser livre e expor os pensamentos mais humanos, que, quando ditos por mulheres, são demonizados pela sociedade. Nós, homens, sempre tivemos o benefício de poder assumir livremente o papel do diabo na terra.
De certa forma, Lisa responde aos meus questionamentos acima com o desfecho dos outros personagens. Finalizo com uma passagem do livro em que Joan reflete: ?Quando são muitas coisas ruins, elas tapam os ouvidos e vilanizam a vítima. Mas uma centena de coisas muito ruins aconteceu comigo. É para eu ficar calada? Suportar a dor como uma boa menina? Ou devo ser má e descontar no mundo? De qualquer forma, não serei amada.?