Ana Karolê || @anakaroline_gc 29/02/2024
A fúria e a festa que há em ser travesti
Um dia, vão bater nessa porta pra me avisar que a encontraram morta jogada numa vala". Esse era o único destino possível para um rapaz que se vestia de mulher : prostituir-se e ser encontrada numa vala."
Começo está resenha com um quote que impacta essa leitura desde o início. E digo: Que livro!
Essa é a história de um menino que se descobre e se acolhe junto a um grupo de travestis que vivem a dor e a alegria de ser quem são.
Na pensão de Tia Encarna, elas se unem e formam uma família que nunca pensaram ser capazes de construir. O bebê brilho dos olhos, a matriarca de tempos dourados, Maria muda que cria asas para alçar vôos, Sandra taciturna, Natali a lobiscate das noites de lua cheia ... Tantas elas são , tantas histórias , tantas noites e situações .
O parque das irmãs magníficas é o palco onde o show acontece, show cuja categoria é ser. Na escuridão do Parque Sarmiento - em Córdoba, as travestis mais famosas, bonitas e desejadas brilham. Pelo menos na mente da jovem travesti que fugiu dos abusos de sua família e cidade natal, para descobrir , a duras penas, que as travestis só querem sobreviver.
Da autora argentina Camila Sosa Villada, esse é um relato sobre a comunidade trans e travesti : acompanhá-lo é doloroso, e também bonito. É tortuoso, e também leve. Em vários momentos me peguei rindo , mas na maioria , chorando . Em cada situação, um recomeço:
"As travestis choravam enquanto a curavam . Por que tanta maldade e selvageria? Por que este mundo de merda ? Por que esta injustiça imensa ? Por que tantas misérias em nosso caminho? A dor de uma era a dor de todas ."
No fim, eu terminei este livro e sentia , em meu coração , o impacto da cena final e o peso de cada palavra proferida nesta história.
Eu amei . E odiei também.
"No entanto, quando uma travesti chora e te pede para ir embora , é melhor ficar . Pq a dor das travestis, nas poucas vezes que rompem de verdade , é como um feitiço. Subjuga o espectador a um estado de lisergia triste. De piedade fosforescente."
#DLL24: Um livro LGBTQIAPN+