brubolochio 13/02/2024
Ser travesti é uma festa perigosa
Quis ler "O parque das irmãs magníficas" por 3 motivos:
1. Nunca tinha lido sobre travestis. Já li alguns livros de ficção com personagens trans ou drags, no máximo, mas nada que contasse a vivência, o processo, e muito menos vida real. Nada nem perto do que a Camila descreve nesse livro.
2. Histórias reais me chamam atenção por si só. E sinto que a Camila foi extremamente sincera nos seus relatos profundos. As vezes eu perdia a esperança na humanidade, e as vezes eu acreditava também que ser travesti é uma festa. É tanto preconceito, tanta ignorância, tanta maldade, tanta brutalidade, tantas dificuldades... e ainda assim elas sorriam e tinham a coragem de ser quem eram. Ela passou por tanta coisa! Eu aqui lendo essa história, do alto da minha torre privilegiada, senti muita empatia, mas difícil imaginar tudo que as travestis dali sentiram.
3. Morei em Córdoba um tempo, e nunca tinha lido um livro que se passava lá. O parque das irmãs magníficas é o Parque Sarmiento, por onde eu passava todo santo dia. Um parque lindo, aliás, assim como Córdoba. Apesar do teor pesado do livro, é muito mais gostoso quando a gente lê algo ambientado em casa, e conhece as ruas, consegue imaginar os caminhos e sabe exatamente a localização dos pontos descritos. Por isso o livro teve um toque a mais pra mim: saber o lado oculto dos lugares que eu só conhecia sob a luz. O Sarmiento mesmo, todo mundo me dizia pra não andar por lá de noite, mas nunca imaginei que rolava tudo o que eu li.
A escrita da Camila é incrível! Ela me transportou. É aquele tipo de livro que acaba e você fica querendo mais. Camila tá bem? Onde ela tá? As histórias contadas aqui são potentes. Deveria ser uma daquelas leitura obrigatória pra todo mundo sentir um pouquinho do que é ser travesti, apesar do livro não ter o tom educativo.
De quebra, recomendo ouvir com o audiobook da audible. A narração da Valéria Barcellos, uma mulher trans, é perfeita.