EmillyLuna 15/01/2022
Eu me lembro de você
É um livro difícil de mensurar, acho que formar uma opinião fixa sobre ele sempre vai ser muito complicado. Não é um livro ruim... Por mais que pudesse entregar bem mais (e podia. muito. tô morrendo de raiva só de pensar. a maioria da resenha é sobre isso.) e minha expectativa não tenha sido tão preenchida assim, consigo entender o hype que ele tem. Estou muito reflexiva desde o início da leitura, esse é o ponto mais forte do livro: te faz pensar, refletir, questionar e quando você percebe... já tá analisando a própria vida e a forma como olha para ela. E dói (não mais que o potencial perdido).
Esse livro me fez sentir muito, principalmente sobre as reflexões que falei. Não sei se por eu realmente me identificar com tanto ou por ser assim mesmo, se essa era de fato a intenção desde o início. É inacreditável porque parece que a reflexão toca tanto na hora da leitura quanto depois. Você repensa sobre a vida, como você a vê, o que você planeja para o futuro, sua relação com o tempo, a importância das pessoas ao seu redor, a importância de ser sua própria base independentemente do que os outros veem e muito, muito mais. Essa é a parte incrível.
"Ah, então quer dizer que o livro é maravilhoso e você indica para os quatro cantos da terra?" então... aí você me complica. Vamos partir para meus pontos de raiva (posso me exaltar, viu?):
Sobre a narrativa arrastada: se ela não tivesse dado tanta volta desnecessária, a poesia e a melancolia do livro seriam bem mais aceitas. Seria super gostoso de ler. Mas o fato de começar a ler as cenas sempre com a mesma repetição e sabendo como termina é um sofrimento. Se torna tão denso e sem propósito. Não sofri com a escrita da Victoria em nenhum momento de Um Encontro de Sombras e 60% do livro é puro contexto, mas aqui eu me sentia sufocada.
SPOILER ALERT ?
Primeiro que, cara, a protagonista tem 300 anos! Isso deveria ser simplesmente a melhor coisa de todas porque não é sempre que a gente encontra um livro assim, e melhor: protagonista de 300 anos que quer conhecer o mundo. A ideia é maravilhosa até que se depara com a realidade: a autora não tira a menina do eixo eua-frança. NÃO TIRA DE JEITO NENHUM, dava vontade de jogar na parede, mas meu kindle foi caro. 95% do livro é nesses dois, sério. São os sóis do sistema solar da autora, os diamantes intocáveis. São 300 anos passeando pra lá e pra cá e só aparece um lugar diferente quando o deus das sombras sequestra ela do nada (e mesmo assim, a narrativa ainda dá um jeito de voltar para a França no capítulo seguinte).
Imagina se tivesse, depois da introdução e da história inicial dela, claro, em vez de colocado ela conhecendo gente aleatória estagnada no mesmíssimo lugar, colocado conhecendo pessoas em cada país ou continente? Imagina a riqueza que isso traria para o livro (só de pensar nisso dá vontade de CHORAR!!!!!!).
IMAGINA SE tivesse usado os flashbacks mostrando ela fazer parte da História ativamente na criação de algo ou momento que todo mundo conhece em vez de só dizer que ela viu acontecer. Ou aproveitado o potencial artístico do livro e a colocado indo em cada continente, país, não sei, mostrando as artes que são feitas lá?
Imagina que FANTÁSTICO a Addie conhecendo a arte feita na Ásia, indo para o Oriente Médio, para o continente africano, as américas, TUDO. Não ia excluir o favoritismo dela pelo país dela ou pela Europa, mas seria TÃO MAIS TUDO! TUDO! TUDO! Tão mais representativo, tão mais inclusivo, tão mais legal de ler. O hype do livro não seria um simples hype, esse livro mereceria um Oscar e um pedestal enorme. Entende minha raiva? O tamanho do potencial perdido... AAAAAAA.
Pessoas ainda se esqueceriam dela, ainda teriam cenas assim, querida autora, mas seria tão mais mágico. Mostrar a arte de cada lugar enquanto a Addie anda por eles. Seria perfeito. Nada a impediria de conhecer gente lá (e gente muito mais interessante: cada uma de uma etnia, povos diferentes, culturas, não sempre a mesma coisa igual ficou na versão atual).
Segundo que até gosto do Henry, mas tem coisas sobre ele que eu não entendo, sabe?
Coração partido???? Nasceu com o coração partido???? Essa é a explicação do Henry? Tinha uma potencial absurdo de virar uma super crítica social, uma coisa super representativa, é só olhar para o mundo agora: ansiedade, depressão, transtornos e mais transtornos. Um deles. Ela só precisava escolher um deles e trabalhar em cima, mas preferiu-se por colocar uma motivação que não existe. Quis largar na hora, fechar o livro e não voltar nunca mais.
Ela não sabe dar continuidade às cenas, poxa. Tudo é uma oportunidade de levar a Addie ou o Henry para o quarto de alguém. Se ao invés de meter um monte de relação e invenção desconfortável no Henry, a Schwab tivesse se aprofundado na personalidade dele... minha nossa!! Podia ser em meio a cenas mesmo, mas com histórias mais palpáveis, seria tão melhor. Não sei se foi proposital, mas acho que isso o torna um protagonista fraco, com um início bom, mas com uma continuidade ruim (chega a um ponto que você não aguenta mais o passado dele, os flashbacks enchem um pouco a paciência por ficarem sem propósito. Tem vários capítulos que seriam arrancados sem falta nenhuma).
Tem tanto, tanto, tanto potencial, mas deixou tanta, tanta coisa passar batida em prol de repetições desgastantes que meu deus...
O vilão-que-não-é-vilão é outro. E o pior é que EU SEI que a Schwab pode fazer mais do que o que fez com ele, conheci esse livro depois de ler outros livros dela e, putz, ela vacilou muito aqui. O deus das sombras, a própria escuridão, está mais para deus da carência e possessividade, que ganha um nome (Luc), uma forma humana inventada e esquece que é manda-chuva do negócio. Fico muito chateada com a ideia de pôr um romance nisso. Ele tinha tudo para ser O vilão, mas virou um cachorrinho correndo atrás da atenção da Addie. Reage, meu filho!!!!! É cada uma, eu hein.
Chega um momento em que o livro estagna.
Mas, no geral, gostei. A premissa não deixa de ser original, muito criativo. Bem bacana. Mexeu comigo, apesar de ter me dado bastante desgosto.