anapaulabbs 10/04/2022
Preciso que lembre, como sempre lembrarei, de Addie Larue.
Eu tive que esperar uns dias, tive que encontrar maneiras de respirar em paz e realinhar os mil pensamentos e sentimentos que gritavam dentro de mim. A vida invisível de Addie Larue nunca esteve destinado a ser só mais um livro dentre os muitos que eu leio. Descobri sua existência quando ainda não havia sequer anúncio de tradução. Um vídeo aleatório no YouTube e eu soube que ele não era como os outros livros que já li, que ele iria me partir ao meio. Eu estava tão ciente disso que ele ficou por meses na estante, simplesmente porque eu não acreditava que tinha chegado a hora de lê-lo.
Eis que a hora chegou e eu caí. Simplesmente fui engolida pelas palavras e pelos sentimentos que a V.E. SCHWAB depositou em cada pedacinho da narrativa. Receio que eu nunca mais serei a mesma depois de conhecer a Addie, o Henry e o Luc.
Veja bem, eu sempre tive muito medo de ser esquecida. Por mais que eu tente trabalhar isso há anos, uma parte de mim sempre gritou que eu precisava deixar as minhas marcas, ser lembrada, e isso não é sobre grandes feitos, mas sim sobre marcar pessoas com pequenos atos, falas, tirar fotos, gravar vídeos, construir uma história. Nós estaremos vivos enquanto estivermos presentes na memória das pessoas. Quando eu abri o primeiro capítulo e li, na primeira página, "O que é uma pessoa, se não as marcas que ela deixa para trás?" eu soube que estava perdida, rendida, entregue.
O livro acompanha Adeline Larue, uma jovem nascida no século XVII, num vilarejo na França. A moça, em seus 23 anos de existência, não conseguia sentir que pertencia à realidade do vilarejo, que estava destinada a constituir família, não ter ambições, não explorar o mundo e as possibilidades. Addie, desde criança, sempre foi um espírito livre e, ao ser prometida em casamento, no auge do desespero, fez exatamente o que a velha anciã e amiga aconselhou a não fazer: preces aos deuses que atendem depois do anoitecer.
Aqui conhecemos um deus que sabe brincar com a semântica das palavras, que faz um acordo baseado no desespero da noiva em fuga que deseja e necessita de liberdade tanto quanto de ar para respirar. Desatenta aos termos, Adeline acaba conseguindo o que desejou: ser livre (e imortal), mas o preço foi alto.
Não ser lembrada por ninguém. Não poder deixar marcas feitas por ela, entregando sua alma quando cansasse de tudo. Ela não vive, sobrevive por 300 anos conturbados sendo um " tecido conjuntivo da história", vendo o mundo mudar, presenciando a história acontecer. Nesse meio tempo, o tal deus é o único que testa seus limites, enlouquece sua mente, sabe que A Adeline existe (conhece sua história, sua origem). Ele quer seu prêmio: a rendição de Addie, sua alma.
São séculos de muitas vidas, identidades, aprendizados, sofrimento e importunação por parte do único que lembrava dela, até que ele não era mais o único. Num sebo, em Nova Iorque, Addie fica surpresa quando mais alguém lembra, e o resto é história kkkk.
A questão aqui é que Addie Larue deixou uma marca em mim. Pela primeira vez eu grifei um livro. Senti uma necessidade tão forte de deixar minhas marcas ali... e foi libertador. Aprendi sobre como as ideias são indomáveis, até mais do que as lembranças, e decidi que, por vezes, tentarei ser ideia. Mas, acima de tudo, tive muitas confirmações sobre como eu penso, como regi minha vida por muito tempo (e ainda faço-o).
Não achei o livro chato em momento algum, pelo contrário. Addie Larue foi um afago na alma, um abraço num momento de agonia, uma constelação particular de 7 estrelas que me transportou a um dos meus maiores picos reflexivos da vida.
Obrigada, Schwab. Obrigada, Addie.
Foi sobre a jornada de muitas vidas, e que jornada!